A Boa Nova
Ela não conseguiu dormir. Duas noites que ela não dormia. Então ela chegou até a janela e viu a noite. Era uma noite estrelada, diferente das outras em que o céu estava fechado. A mulher ficou ali parada por muitos minutos observando as estrelas quando um sopro de vento entrou pela janela e derrubou o imenso manto azul que estava atrás da porta.
Maria caminhou e pegou o manto, iria colocá-lo onde estava mas o vento entrou novamente pela janela e Maria acabou se enrolando em seu manto. O vento não cessou. Então ela viu se seus "meninos" estavam dormindo. Todos pareciam exaustos, encolhidos e quietos. Ela esboçou um sorriso e sorrateiramente saiu de casa.
A noite chegaria ao fim em poucas horas e ela caminhou sem rumo. Seguia apenas o caminho que as estrelas apontavam. E ela seguiu as estrelas até o alto da colina. Lá ela via de certa forma a imensidão daquela cidade que dormia, e do outro lado via a imensidão de terras e montanhas.
Se assentou em um tronco e ficou quieta observando o céu. Uma noite cheia de estrelas. Ela sorriu ao se lembrar de uma noite assim, onde uma estrela avisaria que seu maior amor estava por chegar. Ela chorou, mas nem ela sabia se eram lágrimas de felicidade da lembrança ou da dor da perda recente.
O vento voltou a soprar, tão forte dessa vez que seu manto saiu de sua cabeça. Seus longos cabelos pretos dançaram no vento. Ele parecia querer tirar aquele manto cor da noite dela. Então ela pegou seu véu branco e cobriu os cabelos, e o vento cessou.
Parecia que o luto que estava no manto escuro teria que cessar pela insistência do vendaval. E ela permaneceu quieta e viu o céu se tingir de cores. Ficou ali observando o escuro se tornar colorido, como se fosse uma linda magia de Deus.
Foi então que ela viu o sol surgir. Um raio de sol bateu em seus olhos e ela ficou cega por uns instantes tamanha a luz. Mas ela nada fez apenas fechou os olhos e deixou o sol acariciar seu rosto. Era como se fosse uma mão fazendo caricias em sua cabeça.
- Você... Veio! Você voltou!
- Como sabia disso?
- Acho que o vento me avisou...
- Não foi o vento.
- Eu sei... Foi... Ele.
- Sim foi.
- Por isso todos os sinais. As estrelas, o manto escuro cair, as cores do céu...
- Ele quis te dar esse presente.
- Você é meu maior presente!
Então ela abriu os olhos e sorriu. Ele estava parado em sua frente. Ela sabia que era real, mas ao mesmo tempo era tão sobrenatural. Ela chorava, ela sorria. E ela tremendo o tocou. E ele a abraçou.
- Meu menino! Você voltou... Você voltou!
Ele sorriu e a abraçou tão forte, mas tão forte que ela sentiu toda sua vida resplandecer.
Ela beijava seu rosto, beijava suas mãos. Ninguém no mundo era mais feliz que ela. Ela acariciava seu longo cabelo, sua barba e ele sorria. E não há como descrever seu sorriso, era pura luz.
Então ela agradeceu a Deus. Ela agradeceu como ninguém nunca havia agradecido a Ele.
- Agora eu tenho que ir mãe. Eles precisam saber...
- Eu fui a primeira ?
- Claro, depois de tudo que a senhora passou... Ele permitiu isso.
- Obrigada... Obrigada...
- Vou agora atrás dos seus meninos.
- Meus meninos?
- Eu entreguei todos a senhora lembra? Todos são seus filhos agora.
- Sim... E eu vou os amar e proteger para sempre.
- Vai sim mãe, por todos os séculos dos séculos. Você é mãe da humanidade, porque a senhora é minha mãe... E meus irmãos também precisam de mãe.
Ela sorriu. E ele a beijou na testa e saiu caminhando rumo ao jardim. Mas se virou pra trás e acenando gritou.
- É hora de seus meninos proclamarem a boa nova!
E Maria sorriu concordando com a cabeça e vendo Jesus entrar no jardim se mesclando com os raios de sol.