PERDIDOS SOBREVIVENTES FELIZES

Prólogo

"Sexo é a mais sublime e gratificante necessidade primitiva dos seres humanos e desumanos." - (Wilson Muniz Pereira).

PERDIDOS SOBREVIVENTES FELIZES é um texto ficcional em que um casal de náufragos, considerado perdido, sobreviveu feliz numa inóspita ilha onde o nada representou o tudo para a consecução dos propósitos de ambos.

O casal estava perdido num mar revolto. A embarcação que os conduzia afastara-se. Abraçados a uma boia diminuta, extenuados e tiritando de frio o casal acordou sobressaltado numa ilha pequena e tão inexpressiva que não constava nos mapas.

OS SEMELHANTES FACILMENTE SE CONGREGAM

A imensidão da paixão nobre, da grandeza sem-fim, podia ser sentida nos olhares e expressões do casal em tormentosa provação. Hélio, esse era o nome do naufrago varão, sem saber o porquê, viu-se pensando no encontro que teve no luxuoso quarto de sua parceira de infortúnio. Pareceu-lhe ouvir a voz maviosa da menina-mulher:

“Vamos brincar de pincel e tela? Entre minhas coxas há uma tela. Use, abuse, brinque com a tela inteira. Comece no topo e trabalhe sua descida. Dê pinceladas leves e suaves. Assim. Assim. Assim... Maravilha. Agora tente pinceladas curtas e depois longas, demoradas. Perfeito!”.

Era dessa forma que Analu gostava de ser bolinada. Ela ensinava. Incitava. Sabia que os homens gostam da prática do sexo falado, incentivando às práticas mais prazerosas e permissivas.

Nos corpos em êxtase desapareceriam todos os pensamentos reais, ruins, terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado, sutil, que constitui a essência mesma dos seres imateriais. O casal semelhante em pensamentos e atos não se importava nem mesmo com as suas vidas em crescente perigo.

CONCLUSÃO

No paradisíaco local ermo o casal sobreviveria do mais sublime alimento: Suas avassaladoras paixões! Os lençóis alvos, mais que brancos e macios de outrora foram substituídos pela relva macia, na areia úmida, no remanso da praia. Os rastros deixados no embate amoroso, por ocasião da sagrada profanação dos corpos ardentes, no desvario do acme do gozo sublimado, eram sempre apagados pelas ondas sinuosas do mar azul-turquesa durante a negritude das noites.

Todos os dias e sempre que a tristeza e o medo lhes visitavam, os corpos engalfinhavam-se numa luta apaixonante pela conquista de um só espaço. E na sofreguidão de gemidos excitantes, marcas de amor eram deixadas como provas incontestes de um embate gracioso, como uma dança orgástica entre dois seres que externavam avassaladora paixão.

O casal de náufragos era a mais auspiciosa prova de perdidos sobreviventes felizes. Mas, como nem tudo são flores, na vida real, foram resgatados depois de dezessete dias de mais extremosa paixão. As lembranças dos náufragos, tendo em vista a singularidade da magia, jamais seriam esquecidas.