SORTE INGRATA
Pratos coloridos, meias espalhadas pelo quarto,velas acesas e um incenso ofegante desnudava-se no divã da noite.Relâmpagos? Não mais, Matilde se opusera no que lhe restava a felic idade.
-São coisas vãs- Passava-lhe pela cabeça.
-Deixa aqui, que lhe mando as encomendas. São farpas podres, livres da carnificina!O restante do cheiro me incomoda-Revoltava ela com o olhar perdido e desvairado em puro sangue. Triestes continua a lhe ranger os dentes e a sorrir com resto de sardinha entre estes?Vai já para cama, homem podre, pedaço de animal, vil e sanguinário, é isto que me indica sua sujeira e o resto de cocaína que você deixou.
-Era pura adrenalina, o coração sussurrando por cada pitaco restante e o troço não teria como acabar, peguei mais da metade para garantir o meu, aquele resto de olhar vazio, a cama desembrulhada e eu só veria o próximo pico em puro sangue e o resto dessas lâmpadas verdes e mortais e este zumbido que me ataca os ouvidos. Era pura cocaína e nada mais que três frestas no nariz, para se perder nesta rebuscada sensação de sexo desnudante e mudo!-Isso mesmo mudo!
-Somente mudo!
A noite galanteava arfante em puro pó, somente o pó! Pó seco de giz que me vira às costas.
Homem ignorante e vil, sacrilento!
Cheiro de sexo, sexo gozado solto ao ambiente fresco, é pura carne fria e suja, suja como vocês. É o meu sexo que é sujo e em puro sangue, é o meu sexo!
-Deixe-me quebrar as prateleiras. Deixe-me quebrar o teto do mundo. Arranca-me neste ato de maldade, a sua luta insana pela vida. É como os pequeninos que se fazem os mais, dos azes e azares desta sorte recôndita e mal citada. Venha fala-te a esta sorte ingrata e desleal que cura a minha morte.
-Morrerei, mas não tão cedo.
-Morrerei, mas não tão cedo.
-O esperma que a ti derramas,no gozo,geme por essa terra cheia de sementes infrutíferas e mortais!