O MENINO-SOL

Não se soube como, quando nem de onde veio. Ele chegou, simplesmente. Surgiu-se, derepentemente.

Magrinho, vestindo pequeno short branco e camiseta branquinha como nuvens puras.

Sua doce face era orvalhada por gotinhas de água, como se fora gotas de cristal. Não mostrava manchas de sujeiras de criança. Levantava e baixava a cabecinha; e a virava delicadamente para os lados, quando falava e parava de falar.

Era lindo!

Não! Era belíssimo nos seus três anos aparentes de vida: olhos, entre o verde e o azul, cintilando horizontes de luzes; cabelos de sol, em reflexos de sol, no seu amarelo-ouro mais brilhante; mãos pequeninas, suaves e tímidas incapazes de disfarçarem o encanto sutil nelas ostentado.

Corpo de imaginário anjo celestial, delicadamente suavizado; pele ligeiramente amorenada, querendo ir para uma tonalidade sertaneja, mais para uma doce cor parda leve, pura e delicadamente tenra.

Era a beleza plena, em toda sua total e atualizada perfeição.

Parado.

Estava parado em frente da casa e falando: sinto muito frio.

Que linda criança!

Dir-se-ia, seria o Pequeno Príncipe pousando no nordeste, se tivessem lido a história de Antoine de Saint-Exupéry; tal eram o esplêndido e elegante porte e a purificada beleza daquele menino-sol.

- Quem é você?

- Onde está sua mãe?

- E seu pai?

- De onde vem você?

- Você chegou aqui, agora? Com quem veio?

- Qual é o seu nome?

Somente movimentava a cabeça, quando falava; os braços, mãos e dedos para apontar os mais distantes e indefinidos lugares; os olhos, só para mostrar e provar que eles eram estranhamente belos e magistrais; e o pesinho direito, quando reiterava o que dizia.

O barulho das pessoas presentes aumentou e todos os habitantes do lugarejo vieram ver, de pertinho, o menino, já o aclamando como menino-sol.

Tomou, aparentemente, um pouquinho de leite e mastigou, magicamente, um pedacinho de queijo e, de imediato, adormeceu nos braços da mais velha, melhor e mais carinhosa mãe do povoado, que já o ninava e cantava, com sua adorada voz de mãe adorada, a canção de ninar mais tocantemente emocional e maviosa que a tradição daquela aldeia cantava.

Muitas pessoas passaram a noite na varanda, olhando, analisando e amando aquele momento-noite de felicidade jamais acontecida nem imaginada.

Quando a madrugada abriu sua porta, quase todos ainda dormiam. Mas alguém disse gritando que ele não mais estava a repousar em qualquer cantinho da casa. Ele, procurado por todos, não mais estava em lugar nenhum; nem da casa nem nas suas proximidades.

E as pessoas deram-se as mãos, ajoelharam-se e rezaram a DEUS, a Nossa Senhora do Rosário, a São João Batista, a São Francisco e a São João Bosco, agradecendo por aquele momento, indagando-se, pedindo explicações e a clamarem, prometendo melhoras comportamentais.

- Onde está ele?

- Você o está vendo agora?

- Para onde foi ele?

- E o que ele queria, então?

- Que veio nos dizer ou lembrar?

Quando a tarde veio vindo e o sol mostrou-se com toda sua pomposidade dourada, alguém percebeu um feixe de reflexos mais douradamente forte, no alto do Serrote, no meio do Rio São Francisco, do lado oposto ao poente sol.

E todos perceberam que lá, realmente, havia uma pequena e esplêndida cruz, tão ou mais ofuscante que o sol.

Correram todos em corpos e olhares e, imediatamente, ecoou um ohhhhhh... por todos os lados e lugares, de susto, respeito e admiração.

E, em verdade encantada, lá estava o menino-sol, de bracinhos abertos em cintilante cruz, olhando fitadamente o alto dos céus, com que afrontando sutilmente o sol, imaginando-se sol, querendo ser sol e mostrando a todos que ele também era um extraordinário sol, muito mais cintilante que o nosso sol.

E a multidão, sem qualquer outra opção de adoração ou de louvação, ajoelhou-se todamente contrita e explodindo emoções por todos os poros, comandada pelos bons valores cristão, que se impunham com dignidade naquela diminuta vila, mas crescente em fé e respeito a DEUS.

E, ansiosos, todos contritos, esperaram a voz e as palavras que o menino-sol parecia dizer e todas as pessoas acreditavam estar a ouvi-las e a entendê-las, mas, na verdade, ninguém ouvia som nenhum: tudo era tocante e magicamente encantante e entendível.

E, ao depois, o menino-sol somente era silêncio retumbante e sublimação. E o menino-sol continuou a ser silêncio de voz e reflexos áureos, os mais brilhantes e mais dourados, por toda a noite.

E, por todos os dias seguintes, só ficou a magistral visão; a inexplicável imaginação da lembrança.

Não se sabe se todas as pessoas presentes acordaram ou se o menino-sol desurgiu ainda mais instantaneamente do que surgiu.

- Teria sido o próprio DEUS? Não! Todos ali acreditaram e afirmaram não merecer a dígna visita de DEUS, ainda que encantadamente.

- Foi Jesus Cristo, o Filho VIVO de DEUS?

- O Divino Espírito Santo?

- Ou apenas um anjo especial?

- Sua mensagem não poderia ser mais clara?

- Com que objetivo teria vindo a esse lugar tão pequeno, tão distante, tão abandonado, mas tão confuso e indeciso?

- Por que tanto brilho, infinitamente inimaginável, até então?

- Por que tanto mistério e encantamento?

Diante das incontáveis indagações sem respostas claras e efetivas, somente restou para cada uma das pessoas, o escutar das suas próprias consciências; o perguntar-se sobre o porquê desse acontecimento fantástico e, após construírem suas ponderadas conclusões, partirem para redirecionarem suas atitudes, ações, palavras, objetivos, metas, razões, na busca de uma vida de reconstruções pessoais e comunitárias; perfeições e de edificantes alegrias; de muita saúde; de boa e tranquila convivência familiar e comunitária; de mais construtiva paz, calcada no mérito, no equilíbrio, na nobreza humana, na judiciosidade, no respeito e no amor cristão e fraternal recíproco, leal e crescente.

João Bosco Soares
Enviado por João Bosco Soares em 14/03/2015
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