Sexta-feira, 13

Sexta-feira 13

Eliane acabou de fazer sua rápida maquiagem. Não teve tempo de dar uma olhada detalhada no espelho e apressou-se para fora de casa. Seu coração disparado, a levava ao encontro de Márcio. Entrou no carro e não percebeu mais nada. Uma mistura de sentimentos giravam em seu cérebro, deixando-a tonta como se estivesse embriagada.

Entrou na igreja pela mão de seu padrinho o Sr. Renato, velho amigo da família. No altar o noivo a esperava. Foi uma cerimônia muito bonita, mas um pouco cansativa. Eliane estava realmente desesperada, louca para se livrar dos sapatos que estavam apertados em seus pés tão delicados.

Em algum canto de sua memória, o pensamento voltou. Casar numa sexta-feira 13, só podia dar errado. Ao marcar a data eles não tinham percebido que seria numa sexta-feira. Será que o azar tinha começado? Os sapatos estavam apertados, Márcio tinha um olhar tão distante, na hora de repetir as palavras ensaiadas gaguejou, e na hora de responder com o esperado “SIM”, demorou quase 60 segundos. Assim como o pensamento veio, ele sumiu, Eliane percebeu que estava saindo da igreja ao lado de seu consorte. Sonho realizado não tinha motivo para se preocupar. Esqueceu a dor dos calos nos pés. Feliz,saiu distribuindo sorrisos para o fotógrafo e os convidados que acompanhavam o casal. Fora da igreja eles receberam uma chuva de arroz e seguiram de carro para a festa de casamento na casa de Eliane.

A família de Eliane era pequena. Alguns parentes da parte de seu falecido pai não compareceram, pois moravam em outro estado. Ao encontrar com a tia Firmina sentada em um canto da varanda, Eliane achou estranho, não esperava por sua presença. Lembrou-se imediatamente das palavras de sua mãe: - A tia Firmina, aquela velha estranha não virá para a festa do seu casamento. Eu não quero vê-la por aqui. Ela é muito desagradável e desmancha-prazeres. Na dúvida, achou melhor fingir que não a tinha visto. Perguntaria para sua mãe mais tarde sobre a tia. Não teve tempo de dar mais um passo, sentiu uma mão gelada segurando fortemente seu braço. Um calafrio percorreu-lhe o corpo. Olhou para o lado e tentou sorrir, só conseguiu fazer uma careta de desagrado. A tia Firmina estava ao seu lado sorrindo misteriosamente.

Eliane deu um pouquinho de atenção a tia, e conseguiu afastar-se rapidamente alegando que iria pousar para fotos com Márcio. A tia, compreendeu e lhe deu um pequeno adeusinho balançando o braço.

Outras pessoas foram chegando e a festa estava muito animada. Quando chegou a hora de Eliane e Márcio se despedirem do pessoal para embarcar para a lua-de-mel. Eliane reparou que muitos parentes que não via há muito tempo, estavam todos lá. Acenando-lhes na despedida. Ela ficou muito emocionada, e usou a mão para secar algumas lágrimas.

Alguns meses depois, Eliane conversava com algumas amigas e comentava: - verdadeira bobagem, acreditar que a sexta-feira 13 pode trazer azar. Eu me casei numa sexta-feira 13 e tudo deu certo. Minha festa foi maravilhosa, a viagem para Paris foi um sonho delirante. Eu e meu esposo estamos muito felizes.

Tia Firmina e seus companheiros de trabalho espiritual tinham uma grande missão pela frente. Ajudar Eliane em sua nova vida. Há meses ela havia chegado ao hospital, e não conseguia entender sua situação. Ao fazer a passagem Eliane, apagou temporariamente suas lembranças e revivia em sua imaginação todos os seus sonhos desfeitos na manhã daquela fatal sexta-feira 13. Saiu de casa bem cedo para ir ao cabeleireiro se arrumar, e ter seu dia de noiva. Não chegou ao seu destino, pois sofreu um acidente automobilístico e faleceu no local.