“Céu de Plânctons”

No planeta Éris, localizado nos confins do sistema solar, havia um reino chamado Anthurium. Seu monarca era o estimável Mirabilis Hemera, que governava em paz junto a sua bela esposa, a rainha Cattleya e de seu filho, o príncipe Átis. Porem, a população de Anthurium dobrou num período muito curto, o que causou a escassez do seu principal alimento, as estrelas. Daí surgiu um impasse, pois necessitavam comê-las, tanto quanto necessitavam de sua luz, para não serem atacados novamente pela horda das trevas, os plectranthus. Os plectranthus descendiam de Plectranthu Nix, irmão bastardo do rei Mirabilis, que tentou sem sucesso tomar o trono, e por conta disso foi exilado juntamente com os seus na Colina Claryon, onde a incidência de luz estrelar era maior, o que os enfraquecia. O problema da falta de estrelas foi sanado quando o príncipe Átis, achou debaixo do sacórfago do seu trisavô um antigo livro alquímico onde havia a fórmula para produzi-las. Essa notícia só não agradou a Rhododendron, seu tio, irmão de Cattleya. Rhododendron era um ganancioso comerciante de estrelas, o único que tinha a tecnologia e parafernálias para extraí-las do céu, e por isso as vendia por um preço exorbitante, o que sempre causava um mal estar entre ele e seu cunhado, o justo rei Mirabilis. Quando Rhododendron soube que Átis achara o livro, anteviu o risco de seu negócio acabar, e urdiu um plano para afaná-lo. Rhododendron então fez uma visita surpresa a sua irmã Cattleya, alegando saudades. Durante uma conversa aparentemente despretensiosa, ele descobriu onde o livro ficava guardado, e o surrupiou, sem que Cattleya notasse. Sua ideia era usá-lo somente quando todas as estrelas findassem, para assim valer-se da “lei da oferta e da procura”, e lucrar bem mais. Quando o cenário era o esperado, Rhododendron decidiu executar seu plano, mas ele esqueceu-se de que esse cenário também era bom para os plectranthus, que revigoraram suas forças com a escuridão que Rhododendron ajudou causar, e assim fugiram da já não tão iluminada Colina Claryon. Com os anthurianos esquálidos, inclusive a guarda real, não foi difícil para os pllectranthus tomarem o poder. A primeira medida deles foi acorrentar o príncipe Átis numa espécie de âncora, e arremessá-lo de Éris em direção a um planeta bem distante das estrelas para que ele morresse de inanição, assim extinguiriam a descendência dos Hemeras de uma vez por todas. Átis caiu no mar dum “inóspito” planeta chamado Terra. Mirabilis e Cattleya seus pais, foram encarcerados. Os plectranthus apossaram-se do estoque de estrelas de Rhododendron, e distribuíam diariamente apenas uma mísera porção para cada anthuriano, o suficiente para que eles conseguissem realizar o trabalho escravo imposto por eles. Mas da janela da prisão, Mirabilis e Cattleya jogavam uma parte de suas estrelas na mesma direção que Átis fora lançado. O povo do planeta Terra ao vir àquelas estrelas precipitando-se, deu-lhe o nome de estrelas-cadentes.

Na Terra, Átis Hemera vivia escondido numa gruta na praia onde ele caiu, e lá ficava aguardando as estrelas-cadentes para comê-las. Ao caírem no mar ele mergulhava e as apanhava. Átis aprendeu a se comunicar e assim fez amizade com muitas espécies marinhas, especialmente com uma lontra, [animal que se alimenta de estrelas do mar], a tal lontra dividia o que conseguia com Átis, que a princípio estranhou o sabor daquele tipo de estrela. No entanto, por serem mais nutritivas do que as cadentes, o fortaleceram sobremaneira, daí ele maquinou um plano para voltar a Éris: Pediu aos peixes-voadores que lhes levassem até lá, armou-se com um peixe-espada embebido em veneno de baiacu [o segundo vertebrado mais venenoso do mundo], e também levou consigo uma sacola cheia de plânctons. Ele retornou sem ser notado, por conta da total escuridão que assolava Anthurium. Ao pousá-lo, seus amigos peixes-voadores levaram o saco de plânctons para cima e os espalharam, iluminando assim todo o reino como fossem estrelas, amedrontados, os Plectranthus bateram em retirada, mas Átis perseguiu o rei deles e cravou o peixe-espada envenenado em sua jugular e o feriu de morte, depois disso capturou Rhododendron e o enclausurou na masmorra, recuperou o livro, e por fim libertou seus pais, restabelecendo assim a prosperidade e a paz em Anthurium.

Até hoje no longínquo planeta terra, conta-se a lenda do “comedor de estrelas-cadentes”.