A RAINHA VELHACA E O MAGO EMBUSTEIRO
Houve uma vez uma terra, governada por uma rainha muito autoritária, que estava sendo devastada por uma longa seca. Com tantos anos sem chuva os rios secaram, as plantas morreram, as pessoas e os animais definharam de sede e fome. A economia estagnou, a inflação disparou, a corrupção no governo desenfreou e todo mundo começou a reclamar e a culpar a rainha e seus ministros pelas desgraças que infelicitavam o país.
A coisa ia de mal a pior e já se falava abertamente em revolução. A rainha sentia que sua cabeça estava a caminho do cadafalso.
Foi então que apareceu no palácio um velho feiticeiro e disse é ela: ─ Majestade, a pobreza, o desespero e a angústia do povo vão comprometer o vosso reinado. Logo o povo estará nas ruas para exigir a vossa renúncia. Fazei acordo comigo e eu lhe prometo fazer a chuva cair de novo nesta terra. Pois “a falta de chuva”, disse ele, “é a causa de toda essa desgraça que o país está vivendo”.
― Como podereis fazer chover? ― Perguntou, desconfiada, a rainha.
― É fácil ― disse o feiticeiro. ―Vós não sabeis, mas na verdade, quem levou a chuva embora foi um dragão prateado que ficou muito zangado com o vosso comportamento em relação aos répteis que existem em vossa terra. Porque as cobras, os lagartos, bem como jacarés, salamandras, sapos, calangos, etc. pertencem todos á família dos dragões. E vós e vossos ministros estão tratando muito mal a espécie. Por isso o Grande Dragão prateado, que é o rei dessa espécie de animais, ficou aborrecido convosco e levou a chuva embora.
―E como ele pode fazer isso? ― perguntou a rainha.
―Na verdade, ele é um poderoso mago que controla as forças da natureza ― disse o velho feiticeiro. ─ Ele guarda as chaves das comportas do céu e manda no tempo.
―E o que podemos fazer para agradá-lo? – perguntou a soberana.
―Eu posso trazer a chuva de volta, Majestade, mas antes deveis vos comprometer a me pagar o que eu pedir por esse resultado ― disse o feiticeiro.
─ E qual é o vosso preço? ─, quis saber ela.
─ Quero que Vossa Majestade nomeie alguns ministros que eu vou indicar e me dê poder para indicar presidentes para as principais empresas do vosso reino, especialmente as que controlam a energia e realizam grandes obras públicas.
― De acordo. Farei o que for preciso, se fizerdes chover de novo no meu reino – disse a rainha ― Mas como fareis isso?
―Usarei a minha mágica para aprisionar os espíritos de todos os répteis da terra dentro da minha sacola ― explicou o feiticeiro. ― Depois negociarei a liberdade deles com o rei dos dragões ― aquele dragão prateado do qual vos falei ― e ele abrirá as comportas do céu.
A rainha ficou meio desconfiada, mas concordou. Afinal, não perderia nada se não desse certo. E se desse, salvaria sua coroa. Não custava tentar.
Selado o acordo, o feiticeiro pôs mãos á obra. Abriu a sua sacola, cantou mantras, recitou encantamentos e rabiscou na terra signos e símbolos estranhos e misteriosos. Depois fechou de novo a sacola e tornou a recitar, a cantar, a dançar e a rabiscar incompreensíveis garatujas no chão.
Depois abriu a sacola novamente e, de repente, o céu se encheu de carregadas nuvens negras. Relâmpagos começaram a espocar por todos os lados. Não demorou muito, uma copiosa chuva desabou sobre o país inteiro. Choveu por muitos dias e os rios voltaram a correr em seus leitos, as represas voltaram aos seus níveis, as matas e os campos, castigados pela longa estiagem, começaram a vestir de novo o seu verde manto de clorofila, os agricultores recomeçaram a replantar suas lavouras e a vida voltou a sorrir para todos. As pesquisas de opinião voltaram a ser francamente favoráveis á rainha e ela estufou o peito e se encheu de arrogância e autoridade, como se fosse ela a responsável por todas aquelas benesses. Por quatro anos a bonança durou naquele país e o povo, satisfeito, reafirmou sua lealdade ao trono.
Então o feiticeiro voltou ao palácio para lembrar á rainha que tudo aquilo era obra dele e que o seu pagamento devia ser aumentado.
― Majestade, cumpri o que havia prometido. Dei-vos quatro anos de bonança e garanti que a coroa continuasse sobre a vossa cabeça. Agora é a vossa vez de cumprir vossa parte no nosso trato, dando-me o controle de mais alguns ministérios e a presidência das vossas principais estatais ― disse o feiticeiro.
― O que? ―, respondeu a rainha. ― Estais louco se pensais que vou dar a um embusteiro como vós o controle do meu reino. Tanto poder por um truque de mágica? Quem garante que foram os vossos encantamentos que trouxeram a chuva de volta e não a própria natureza que resolveu abençoar novamente a nossa terra? Quem pode provar que foi a vossa mágica a responsável por esse resultado e não a minha própria competência e empatia junto aos deuses? ― perguntou, sarcasticamente, a soberana.
― Quando estáveis necessitados não pedistes nenhuma prova do meu poder ― disse o feiticeiro. Por que agora, que tendes o que pedistes, estais a exigir tal prova como obrigação para que eu possa receber o que me deveis? ― respondeu o feiticeiro.
―Não quero ser lograda ― respondeu a rainha ― pagando tão caro por uma farsa.
―Se tudo foi uma farsa ─ respondeu o feiticeiro ─ vós vos aproveitastes bem dela. Que vos importa como as coisas acontecem, se elas acontecem conforme a vossa necessidade? Acaso não recebestes o que contratastes?
―Sim, mas eu sou a rainha e não acredito que tenhais qualquer influência nisso. Os deuses escolheram a mim para governar este país e não é um mero feiticeiro farsante como vós que ireis limitar o meu poder ― respondeu ela, com arrogância.
―Então não me dareis o que vos peço ? ─ perguntou o feiticeiro.
―Não ― respondeu a rainha. ─ Chega de mistificações. Este reino e este povo não podem mais ser governados através de truques de prestidigitações e engodos. É tempo de voltarmos á realidade e tratarmos a coisa pública com seriedade.
― Pois se reconheceis que os quatro anos de bonança que nós vos demos foi apenas um truque de embusteiro, é porque realmente não acreditais que nada disso seja real. Como vós sabeis, Majestade ─ disse o feiticeiro, com um sorriso ambíguo ─ todo truque de ilusionismo só funciona quando a plateia acredita no que está vendo. E se vossa Majestade não acredita realmente na ilusão que criamos, então o truque não funcionará mais.
Por consequência ─ finalizou o mago ─ com uma careta de decepção(ou de alívio?) parece que não sou mais útil para Vossa Majestade. Chegou a hora de desfazer essa ilusão.
Então o feiticeiro transformou-se num grande dragão prateado e voou, desaparecendo no céu já sem nuvens. E a chuva sumiu de novo daquela terra.
***
Recuperei este conto pensando no Renan Calheiros e no Eduardo Cunha e no conflito que esses dois “dragões embusteiros” estão travando agora com a presidenta Dilma. Pois foi o PMDB, maior partido do Congresso, que permitiu que a Dilma enganasse durante quatro anos o povo brasileiro e ajudou-a a se eleger para mais quatro anos. Mas agora, ela entendeu com quem estava lidando e está tentando desfazer o pacto. E a reação do velho feiticeiro não demorou. Como ratos que abandonam o navio quando ele está indo a pique, os dois estão procurando se descolar do governo a quem defenderam durante doze anos.
O problema é que nessa briga entre o rei velhaco (o PT) e o mago embusteiro (o PMDB) quem paga o pato são os passageiros desse navio á deriva em que eles transformaram o Brasil.
A propósito, para quem acredita na existência de coincidências significativas, a seca que assola o país pode não ser um mero fenômeno climático. Como disse o filósofo Plotino, “as estrelas em seu percurso combatem pelo homem justo”. Porque o inverso também não seria verdadeiro?
Houve uma vez uma terra, governada por uma rainha muito autoritária, que estava sendo devastada por uma longa seca. Com tantos anos sem chuva os rios secaram, as plantas morreram, as pessoas e os animais definharam de sede e fome. A economia estagnou, a inflação disparou, a corrupção no governo desenfreou e todo mundo começou a reclamar e a culpar a rainha e seus ministros pelas desgraças que infelicitavam o país.
A coisa ia de mal a pior e já se falava abertamente em revolução. A rainha sentia que sua cabeça estava a caminho do cadafalso.
Foi então que apareceu no palácio um velho feiticeiro e disse é ela: ─ Majestade, a pobreza, o desespero e a angústia do povo vão comprometer o vosso reinado. Logo o povo estará nas ruas para exigir a vossa renúncia. Fazei acordo comigo e eu lhe prometo fazer a chuva cair de novo nesta terra. Pois “a falta de chuva”, disse ele, “é a causa de toda essa desgraça que o país está vivendo”.
― Como podereis fazer chover? ― Perguntou, desconfiada, a rainha.
― É fácil ― disse o feiticeiro. ―Vós não sabeis, mas na verdade, quem levou a chuva embora foi um dragão prateado que ficou muito zangado com o vosso comportamento em relação aos répteis que existem em vossa terra. Porque as cobras, os lagartos, bem como jacarés, salamandras, sapos, calangos, etc. pertencem todos á família dos dragões. E vós e vossos ministros estão tratando muito mal a espécie. Por isso o Grande Dragão prateado, que é o rei dessa espécie de animais, ficou aborrecido convosco e levou a chuva embora.
―E como ele pode fazer isso? ― perguntou a rainha.
―Na verdade, ele é um poderoso mago que controla as forças da natureza ― disse o velho feiticeiro. ─ Ele guarda as chaves das comportas do céu e manda no tempo.
―E o que podemos fazer para agradá-lo? – perguntou a soberana.
―Eu posso trazer a chuva de volta, Majestade, mas antes deveis vos comprometer a me pagar o que eu pedir por esse resultado ― disse o feiticeiro.
─ E qual é o vosso preço? ─, quis saber ela.
─ Quero que Vossa Majestade nomeie alguns ministros que eu vou indicar e me dê poder para indicar presidentes para as principais empresas do vosso reino, especialmente as que controlam a energia e realizam grandes obras públicas.
― De acordo. Farei o que for preciso, se fizerdes chover de novo no meu reino – disse a rainha ― Mas como fareis isso?
―Usarei a minha mágica para aprisionar os espíritos de todos os répteis da terra dentro da minha sacola ― explicou o feiticeiro. ― Depois negociarei a liberdade deles com o rei dos dragões ― aquele dragão prateado do qual vos falei ― e ele abrirá as comportas do céu.
A rainha ficou meio desconfiada, mas concordou. Afinal, não perderia nada se não desse certo. E se desse, salvaria sua coroa. Não custava tentar.
Selado o acordo, o feiticeiro pôs mãos á obra. Abriu a sua sacola, cantou mantras, recitou encantamentos e rabiscou na terra signos e símbolos estranhos e misteriosos. Depois fechou de novo a sacola e tornou a recitar, a cantar, a dançar e a rabiscar incompreensíveis garatujas no chão.
Depois abriu a sacola novamente e, de repente, o céu se encheu de carregadas nuvens negras. Relâmpagos começaram a espocar por todos os lados. Não demorou muito, uma copiosa chuva desabou sobre o país inteiro. Choveu por muitos dias e os rios voltaram a correr em seus leitos, as represas voltaram aos seus níveis, as matas e os campos, castigados pela longa estiagem, começaram a vestir de novo o seu verde manto de clorofila, os agricultores recomeçaram a replantar suas lavouras e a vida voltou a sorrir para todos. As pesquisas de opinião voltaram a ser francamente favoráveis á rainha e ela estufou o peito e se encheu de arrogância e autoridade, como se fosse ela a responsável por todas aquelas benesses. Por quatro anos a bonança durou naquele país e o povo, satisfeito, reafirmou sua lealdade ao trono.
Então o feiticeiro voltou ao palácio para lembrar á rainha que tudo aquilo era obra dele e que o seu pagamento devia ser aumentado.
― Majestade, cumpri o que havia prometido. Dei-vos quatro anos de bonança e garanti que a coroa continuasse sobre a vossa cabeça. Agora é a vossa vez de cumprir vossa parte no nosso trato, dando-me o controle de mais alguns ministérios e a presidência das vossas principais estatais ― disse o feiticeiro.
― O que? ―, respondeu a rainha. ― Estais louco se pensais que vou dar a um embusteiro como vós o controle do meu reino. Tanto poder por um truque de mágica? Quem garante que foram os vossos encantamentos que trouxeram a chuva de volta e não a própria natureza que resolveu abençoar novamente a nossa terra? Quem pode provar que foi a vossa mágica a responsável por esse resultado e não a minha própria competência e empatia junto aos deuses? ― perguntou, sarcasticamente, a soberana.
― Quando estáveis necessitados não pedistes nenhuma prova do meu poder ― disse o feiticeiro. Por que agora, que tendes o que pedistes, estais a exigir tal prova como obrigação para que eu possa receber o que me deveis? ― respondeu o feiticeiro.
―Não quero ser lograda ― respondeu a rainha ― pagando tão caro por uma farsa.
―Se tudo foi uma farsa ─ respondeu o feiticeiro ─ vós vos aproveitastes bem dela. Que vos importa como as coisas acontecem, se elas acontecem conforme a vossa necessidade? Acaso não recebestes o que contratastes?
―Sim, mas eu sou a rainha e não acredito que tenhais qualquer influência nisso. Os deuses escolheram a mim para governar este país e não é um mero feiticeiro farsante como vós que ireis limitar o meu poder ― respondeu ela, com arrogância.
―Então não me dareis o que vos peço ? ─ perguntou o feiticeiro.
―Não ― respondeu a rainha. ─ Chega de mistificações. Este reino e este povo não podem mais ser governados através de truques de prestidigitações e engodos. É tempo de voltarmos á realidade e tratarmos a coisa pública com seriedade.
― Pois se reconheceis que os quatro anos de bonança que nós vos demos foi apenas um truque de embusteiro, é porque realmente não acreditais que nada disso seja real. Como vós sabeis, Majestade ─ disse o feiticeiro, com um sorriso ambíguo ─ todo truque de ilusionismo só funciona quando a plateia acredita no que está vendo. E se vossa Majestade não acredita realmente na ilusão que criamos, então o truque não funcionará mais.
Por consequência ─ finalizou o mago ─ com uma careta de decepção(ou de alívio?) parece que não sou mais útil para Vossa Majestade. Chegou a hora de desfazer essa ilusão.
Então o feiticeiro transformou-se num grande dragão prateado e voou, desaparecendo no céu já sem nuvens. E a chuva sumiu de novo daquela terra.
***
Recuperei este conto pensando no Renan Calheiros e no Eduardo Cunha e no conflito que esses dois “dragões embusteiros” estão travando agora com a presidenta Dilma. Pois foi o PMDB, maior partido do Congresso, que permitiu que a Dilma enganasse durante quatro anos o povo brasileiro e ajudou-a a se eleger para mais quatro anos. Mas agora, ela entendeu com quem estava lidando e está tentando desfazer o pacto. E a reação do velho feiticeiro não demorou. Como ratos que abandonam o navio quando ele está indo a pique, os dois estão procurando se descolar do governo a quem defenderam durante doze anos.
O problema é que nessa briga entre o rei velhaco (o PT) e o mago embusteiro (o PMDB) quem paga o pato são os passageiros desse navio á deriva em que eles transformaram o Brasil.
A propósito, para quem acredita na existência de coincidências significativas, a seca que assola o país pode não ser um mero fenômeno climático. Como disse o filósofo Plotino, “as estrelas em seu percurso combatem pelo homem justo”. Porque o inverso também não seria verdadeiro?