UMA NOITE NO AÇUDE.
UMA NOITE NO AÇUDE.
Um lindo monumento aos pioneiros da Borborema foi encravado às margens do Açude Velho no dia 11 de Outubro de 1964. As estátuas de pedra sabão, pesando aproximadamente uma tonelada e meia cada uma, foram trazidas do Rio de Janeiro para Campina Grande num caminhão Chevrolet 1963 por José Firmino Dos Santos.
É um belíssimo cartão postal da cidade, onde seus moradores, mesmo que intuitivamente, se inspiram nas suas atividades profissionais, pois, elas reproduzem a força e a pujança de nosso povo, representando a atividade algodoeira, grande fonte de divisas na região; Os Tropeiros da Borborema, mostrando a dinâmica do comercio; E o índio, afirmando as origens primitivas da localidade.
Mas, ah um fato que os moradores da cidade desconhecem, com a rara exceção do seu Firmino.
Pasmem! Na estátua central, a algodoeira, existe um buraco bem abaixo do braço esquerdo, que tem uma função inacreditável. Todo dia 11 de Outubro às onze horas e oito minutos, precisamente, emerge das profundezas do açude, um coração de pedra. Este coração tem o tamanho proporcional, três vezes maior do que o que caberia em uma das estátua, isto também tem uma explicação: O tamanho do furo no monumento, permite exatamente a entrada deste coração sem sobrar ou faltar espaço. Neste momento, irradia-se um feixe de luz em direção as outras duas estátuas, dando-lhes vida e inteligência.
A base de sustentação do cartão postal, já foi desde o principio projetada em forma de rampa, isto permite uma suave decida das figuras em questão. A algodoeira é a primeira a caminhar pela passarela trazendo consigo as outras duas. Elas saem pela cidade com uma transparência que lembra água, fato que lhes permite passar despercebidas por toda população. No lugar onde elas foram postas, nas margens do açude, fica uma espécie de “encanto”: Todas as pessoas que passam por aquele lugar, não conseguem direcionar o olhar para aquele canto, tornando-se assim, a mesma visão normal de sempre, como se elas sempre estivessem ali. O índio percorre toda cidade proporcionando sensação de fartura e alívio em quem sente fome; O tropeiro permite que quem não tem emprego ou fonte de renda, ganhe algum dinheiro para sobreviver por onze dias sem ‘aperreio’; E finalmente a algodoeira, leva o conforto do algodão a quem não tem uma cama confortável para dormir.
Assim como no filme “Uma noite no museu” o seu Firmino tenta administrar os lugares que devem ser percorridos pelas estátuas, norteando com sabedoria as áreas mais carentes da cidade. Desta forma, um anônimo caminhoneiro de personalidade impar, torna-se uma figura primordial na história recente de Campina Grande, sem jamais ter sido reconhecido por seus atos.
A lenda “Uma noite no açude” embora meramente um “conto da carochinha”, poderia servir de exemplo aos que são mais afortunados, para dispensar um pouco de sua atenção aos que mais precisam. Um alimento para os filhos, um trabalho para seu sustento e o conforto de uma cama, trazem o mínimo de dignidade para quem não tem um coração de pedra. Maerson Meira. 02/02/2015.