Diferente Entre Iguais

Vinham em bandos aos funerais ou às “rebitas» na periferia da cidade. Trajavam outra moda e dançavam os mesmos ritmos com passos diferentes, ora sensuais ora ousadamente anacrónicos. Nenhuma moça núbil ficava indiferente e os rapazes locais acabavam preteridos, furiosos e frustrados. Ninguém, ao certo, sabia de onde vinham. Desapareciam sem responder aos desafios como se tivessem asas. Riam muito mas nunca falaram. Um dia, porém, um não fugiu a tempo. Adormeceu exausto à beira do caminho para as lavras e ali o acharam todas as que cuidavam da terra. Parecia morto mas vivia um tão pesado sono que não foi possível espreitar-lhe a alma nem saber das suas razões. O corpo, esse, vencido o primeiro pudor, foi devassado, exposto, admirado pelas mulheres e, depois, convenientemente amarrado para que não fugisse. E todas se foram sem saber mais do estrangeiro, sem escutar-lhe a voz, sem ver nele o riso fascinante. O termo do dia deu-lhes pressa e no regresso todas correram para o jovem adormecido. Lá estavam as cordas abandonadas à beira do caminho. Estavam as roupas, estava a sua catana afiada. O homem, esse, já na noite desaparecia. Viram-no como leão, tigre, mabeco ou lince. Cada mulher o disse como entendeu. O único ponto da história em que todas concordaram é que o homem era mágico e tinha desaparecido.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 27/01/2015
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