Semente
Como árvore posso me aprofundar no tempo, e viver dois séculos apenas observando. Mas veja, o tempo não existe! Então, ao mesmo tempo que sou árvore posso ser o pássaro que pousa em meu próprio galho. Isso serve, como muitos diriam, como um exercício de relaxamento, uma vez que o tempo é uma ilusão da qual estou liberto, mas às vezes é bom deixar-se iludir por ele novamente, como um exercício de lazer.
Aquilo que se chama realidade é um estado mental particular de cada um, por isso pessoas tão próximas veem a vida de forma tão diferente umas das outras. Sequer percebem que as suas realidades são diversas, mesmo estando lado a lado. Sabendo disso, a minha realidade é o que eu quero que seja. Posso ser uma pessoa admirando um por do sol, ou o próprio raio do sol dourado cortando reto as nuvens lá em cima, mas nesse momento, também posso estar sendo a primeira estrela que aparece, ainda de dia, antes que a noite caia totalmente.
Posso estar aqui agora, num dos braços da galáxia, e contra todos os cálculos possíveis, pular num suspiro para o outro lado do universo, depois de três bilhões de galáxias, difícil demais para uma mente humana conceber. Isso tudo porque também não existem distâncias. Uma vez que só existe a consciência, você pode estar consciente ou não da distância... E eu escolhi não estar.
Ora, imaginemos... Por que existe aquela pedra logo ali? Ou aquele sabiá que canta? Ou o cão que atravessa a rua a correr latindo? Se você não tivesse consciência de si mesmo, eles não existiriam pra você, feche os olhos por um momento, tampe os ouvidos... não mais os verá. Logo, só existem por que você tem consciência, já que você é o centro do seu próprio universo. Ah, mas existem para os outros, e mesmo que eu não estivesse aqui vendo, eles existiriam na consciência dos outros!
Isso responde a uma questão primordial! A consciência que sou eu é a mesma consciência que o outro é. Apenas vista de outra perspectiva, que alguns chamariam de ego. Que nada mais é que uma individualização exacerbada da experiência, um "ponto de vista" particular sobre determinado acontecimento. Logo, somos todos um!
Sou a árvore e o pássaro, e ainda assim tenho controle e conhecimento de ambas as experiências, por que os dois estão em mim. Sou o que eu quiser ser, porque não estou mais preso às ilusões da limitação da tridimensionalidade, ou quadridimensionalidade, se levar em consideração aqui o tempo. E enquanto escrevo esse texto, sou uma criança que acaba de tomar um banho de cachoeira, uma pedra lançada contra um lago, sou um menino numa aula de violino, sou um monge buscando iluminação no alto de um morro, sou uma pessoa presa no trânsito. Qual deles se tornará de fato quem eu sou? Depende de onde coloco o meu coração, depende do que eu amar, isso definirá o que eu serei pra mim. Até que a eternidade, que de tão longa, me entedie de novo, e eu decida ser uma semente enterrada num solo, em algum lugar que em minha mente definirá como sendo um planeta numa realidade tridimensional temporal, e então essa semente venha a germinar e a dar frutos trezentos anos depois, e esse fruto caia e germine outra vez num ser consciente. Este ser atravesse gerações em busca de algo que achou que perdeu. E lute e morra. E depois renasça de novo muitas vezes, até eu me cansar de brincar disso e ter saudade outra vez do indefinível, da eternidade, e volte a minha consciência outra vez ao entendimento final e absoluto de que, não existe tempo, e sou eterno. Então assim eu viva mais bilhões de anos, criando e extinguindo universos, até me "entendiar" de novo, e decidir ser semente...