572-O SEGUNDO ETERNO - Um Pesadelo?
O SEGUNDO ETERNO
Um conto de metáforas
Os olhos abriram lentamente. Uma estrela branca brilhava acima de sua cabeça, inundando tudo com a luz fria e incolor. Começou a voltar à realidade e as indagações começaram a pipocar em sua mente.
Onde estou? Que lugar é este? Como vim parar aqui?- pensou
O pensamento corria, suave e silencioso, um rio subterrâneo.
Tentou movimentar-se e então sentiu que estava imobilizado. Seu corpo era um tronco de árvore flutuando...na água? No nada?
Ouviu um tic-tac e um bip-bip.
Um hospital! Meu Deus! Estou numa cama de hospital!- As idéias tomavam forma.
Uma imagem se colocou entre a luz e a sua visão: uma cabeça enrolada em pano branco, uma múmia de algodão, somente os olhos aparecendo por uma fresta entre as faixas. Fechou os olhos. Não queria reconhecer a realidade.
Sentiu, por intuição, que outra pessoa também estava ao seu lado, ao lado do leito. Ouviu sons, palavras que formavam frases. As frases cortavam o silêncio, facas afiadas de vozes diferentes:
=Que acha, doutor? = perguntou uma voz de mulher.
=Ele é forte como um touro. Vai escapar, sim. = respondeu a voz masculina.
=Mas suas reações estão se tornando cada vez mais lentas. = ela disse.
=Agora, só a esperança é uma certeza. Vamos aguardar.
Pelas pálpebras semi-cerradas, observou o movimento. Os vultos se afastaram, saíram de cena.
Voltou a mergulhar nos seus pensamentos. No rio que corria lento e diminuía de velocidade. O relógio pingava os segundos, um a um, vagarosamente.
O rio dos seus pensamentos corria, lentamente e cada vez mais lentamente.
O relógio marcava os segundos e o tempo entre cada marca ia se estendendo, estendendo.
Até que o rio cessou de correr e o último segundo se estendeu pela eternidade.
ANTONIO GOBBO
Belo Horizonte, 28 de outubro de 2009 –
Conto # 572 – da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS