A CARTA
Lá estava ela sobre a mesa. Quatro anos ali fechada, envelope amarelado. Não queria abri-la ainda. Não era o momento. Deveria esperar mais. Mas quanto tempo mais? E se não tivesse tempo suficiente?
Tempo era uma palavra engraçada para ela. Sim, senhor! Quatro anos se passaram e a carta misteriosa ali!
Uma chuva forte caía lá fora. Relâmpagos iluminavam a janela e pareciam quase querer abrir a carta que ali estava. Não esperaria mais. Abriria-a naquele momento. Fossem quais fossem os resultados, teria de aguentar.
Naquele momento, viu sua mãe se aproximar, os olhos marejados de lágrimas, atentos ao envelope. Passou por ela como se não a enxergasse. Sentou-se à mesa. Pegou o envelope e, antes de poder dizer à mãe que era ela quem deveria abri-lo, viu que já estava aberto. As lágrimas agora rolavam pelo rosto de sua mãe. Ela não compreendia por quê.
Aproximou-se daquela senhora, que continuava chorando. Ficou atrás, olhando por cima do ombro direito dela. Seus olhos foram se esticando, como se os seus sentimentos também pudessem se esticar. Leu um trecho marcante, do final da carta, repetidas vezes:
" Podemos imaginar o tamanho de sua dor, ao perder sua filha. A queda do avião no mar levou uma pessoa cheia de vida e tão jovem..."
Viu, com surpresa e dor, que era uma carta e um convite em que a empresa, onde trabalhara por seis anos, faria uma homenagem a ela e a dois outros funcionários, que também estavam no mesmo avião. Enfim, lembrou-se de tudo.