AS FANTASIAS DE DANDA
Ostentadora de um par de pernas roliças e um rosto airoso, Danda despertava a atenção do sexo oposto, sem exibicionismo, de forma muito natural. Sua modesta beleza não chegava a provocar inveja em qualquer candidata a topmodel. O perfume do seu rosto também não era tão raro. Suas particularidades se destacavam pelas fantasias raras, que ninguém enxergava, e se enxergasse não aplaudiria, apenas a faria vítima de torpes difamações.
O caráter extraordinário de seus desejos talvez se devesse ao fato das pessoas os desconhecerem. Afinal, quase ninguém fica revelando fantasias em público. Elas são as propriedades mais subjetivas e pessoais.
As frestas da cortinha seriam abertas com parcimônia. Danda queria ser observada nos momentos íntimos, tocada com leveza e paciência, porém sem ser importunada. Queria ser explorada a cada centímetro, desnudada lentamente, apalpada em câmera lenta e aplaudida como se estivesse se apresentando num tablado. Tudo aquilo lhe acarretaria prazer. Para ela o prazer era sua fantasia. Não se contentava com as umectações rápidas, mesmo que elas mobilizassem o parceiro.
Também não importava que suas fantasias fossem realizadas com Melo, um homem recatado, casado e defensor das boas relações conjugais. Ele jamais escutara confissões secretas. Apenas foi se deparar com uma exigência de desabafos íntimos. O palco “pecaminoso” estava montado e o tabu alimentava agora a alma daquela fada encantada. Foi arrancada a tornozeleira e os desejos começaram a fluir dos pés. A umectação bucal ejetada e fazendo nadar num céu quente sob os soluços que perpetuam a alucinação do corpo e da alma.
Felpuda a pele, arrostada pela região pélvica os movimentos que refazem a vida secreta das entranhas.
Toques dácteis com insistência, numa sequência de separação e junção de membros inferiores, mas sem os trejeitos convencionais. A língua frenética assanha os mamilos. E os estertores se revelam num incontido ulular.
O palco é o canto esquerdo do leito onde se encenaria a breve cena do casal. Danda não quer uma cena rápida, sua fantasia é por um espetáculo demorado. As cópulas são para serem sentidas, não apenas cumpridas. Por isso é capaz de correr qualquer risco: o preço pode até ser sua reputação.
Os lampejos da cortina revelam as coxas sedosas. A boca escandalosamente escancarada se oferece. Os lábios volumosos e as sensações táteis completam movimentos ousados e murmúrios ininteligíveis.
Quando foi apanhada pelas ilhargas e conduzida ao canto esquerdo do palco, um braço másculo sustentando na parte inferior do joelho, Danda percebeu que estava consumada sua fantasia. Mesmo que pagasse um preço muito alto.