Cantiga da noite (Nova versão)
Caminho sem direção, nada é familiar.
Olho ao lado e assusto-me com o repentino correr de dois garotos de um lado para outro da mata. Tento alcança-los, mas logo eles esvaecem em meio às árvores.
Persisto na busca e avisto um vasto campo com uma pequena casa de madeira ao pé da montanha.
Sigo em direção a casa, subo pela rangente escada de madeira, bato algumas vezes na porta, mas ninguém está. Sento-me em uma cadeira, na pequena varanda, até que alguém surja.
Ao longe observo um senhor vindo a passos curtos.
Mesmo não me conhecendo, ao me notar sentado, o senhor já vem com um sorriso como quem vê um filho. Me alcança e não diz uma palavra e assume um violão atrás da cadeira, começando a tocar suaves canções. Sem que eu perceba, surgem os dois garotos outra vez. Deixo me levar pelo belo som e afetuosa brisa.
Fecho os olhos e o som subitamente cessa.
Alguns segundos depois escuto o arrastar de um chinelo e vou a seu encontro.
Saindo de um pequeno paiol, o senhor me olha e por desmazelo deixa escapar uma ovelha.
Corro para resgata-la. Ela entra na mata, mas persigo-a sem desistir. Caminhando por alguns minutos, não à encontro e acabo perdido.
Aos poucos tudo vira noite. Sento-me em uma pedra, e deixo-me levar pelo sono impetuoso.
Desperto com leves passos na mata que se aproximam repentinamente. Após o movimentar do mato, fico tranquilo ao ver que é a ovelha que retorna e fica ao meu lado.
Ao longe escuto um assovio. A ovelha eleva a cabeça, e se move na direção do som.
Correndo entre árvores e pequenos riachos a ovelha e eu atrás tentando não à perder de vista, até passarmos por um último véu de árvores, abrindo o grande pasto novamente. Ao longe localizo o violeiro sentado na escada da pequena casa de madeira.
Levo e entrego a ovelha ao senhor que me olha e diz “Que bom que você está aqui”.
Assusto-me com o que o senhor fala e entendo que agora é o momento das perguntas.
Iniciamos a conversa, e o que me surpreende é a história de seu filho que meses atrás ficou uma semana perdido em meio à mata, após isso o jovem nunca mais foi o mesmo.
Dizia ele, com lagrimas escorrendo pelo rosto, que desde então ele e seus netos seguem uma jornada para que tudo torne um dia a ser normal.
Sinto no coração certa tristeza, peço para ver seu filho. O senhor apenas dá um singelo sorriso e em um leve movimento passa a mão sobre o meu cabelo.
Respiro fundo e sinto uma forte dor na cabeça, abaixo-me até sentar na grama. Tudo muda rapidamente em meu pensamento, olho para cima e digo “Pai?”.
O senhor subitamente sorri e pega em minha mão.
O sono aos poucos fica impossível de conter, fechando os olhos, escuto o senhor falar “Calma crianças, só foi mais um dia. Aos poucos o pai de vocês irá lembrar, amanhã faremos tudo de novo”.
...
Caminho sem direção, algo me é familiar...
Olho para o lado e assusto-me com o repentino correr de dois garotos de um lado para outro da mata. Tento alcança-los, mas logo eles somem em meio às árvores...