A borboleta e eu
Eu gostaria de falar de começos, mas por me faltarem os antes, inicio agora com os durantes que serão sabidos depois. Tome tento, pois que é mesmo torta esta narrativa: nada a sustém, senão a necessidade de nenhuma coisa. No fundo, no fundo, um rio profundo a ver navios, arrodeados de peixinhos amarelos. – vá, vá, que o tempo útil está a te perder, não te estragues.
Mas se insistes em assistir à derrocada dessa oratória fanha, tenho a lhe dizer que os durantes já estão passando, e serei injusto se deles não lhe revelar sequer um instante. Pois, bem.
Na verdade, trata-se mais de contemplação do que de escrevinhamentos. Tudo aconteceu antes da batida do olhar, do farfalhar das asas daquela borboleta – contemplação! Foi que um seixo desgovernado, ah, menino inoportuno! Não tinha outro rio para os seixos arremessar?!
Pobre da borboleta, espremida no tronco de ingá!
Sábio por sua decisão, naquele momento o sol limitou-se a um olhar único, o do silêncio, o de cores e luzes, arremedo de flores amarelas. E coroou-se no céu dos meus sentidos a reminiscência, uma reminiscência amarela. E é por isso que não posso falar de começos, por causa do breu de um passado amarelo, no fundo, no fundo, de um rio profundo a ver navios, arrodeados de peixinhos amarelos.