Angustia
O despertador toca é hora de levantar .Os pensamentos passam através das células do cérebro e entre si conectam até chegar na ação de levantar. Esses pensamentos voltam ao trabalho estressante do cotidiano conturbado .Cotidiano de paulistano. Vejo a hora no relógio e bate as seis e quinze da manha. Esta cedo a cidade dorme .Os cachorros dormem e a natureza começa a acordar. As roupas penduradas ali no cabide estão amassadas. O cabide encontra-se no canto do pequeno quarto. As roupas estão penduradas intactas e não amassam ate que haja um toque. As paredes fecham-se e espremem ate que levante da cama. Levanto da cama e busco algo na geladeira. A geladeira esta vazia, há apenas uma garrafa de cerveja já aberta da noite passada de angustia.
Entro no banho e as gotas geladas que caem de um chuveiro velho queimam as três ou mais epidermes de minha pele. O sabonete ao canto esta gasto, rachado e com mais de quinze dias de vida.
A toalha machuca a pele parecendo arames retorcidos de um cenário do sertão. Visto a camiseta apertada no corpo e incomoda. Os sapatos apertam e não servem mais. Estou pronto para a jornada.
Desço as escadas sujas e imundas do pequeno flat onde passo todas minhas noites. As noites de angustia.
As escadas parecem que querem derrubar todos seres humanos que ali descem. No flat não existe elevador, apesar de apenas o prédio possuir cinco andares.
Desço as escadas e cumprimento a pessoa que dorme as sete horas da manha na recepção do flat. A pessoa usa roupas e trajes que incomodam.
Aquelas luvas de inverno rigoroso, o boné que cobre o rosto e os sapatos não combinam com a calça e a roupa.
As paredes do prédio tem o odor de mofo, as luzes mal funcionam.
Abro as portas frontais e sigo para um café de esquina.
Café de esquina parecido com “As Aventuras de Sherlock Holmes”.
Entro no café e vejo uma mulher ao canto lendo jornal com uma xícara de chá e um copo de agua. Tenho vontade de aproximar mas não há coragem.
Ela lê aquele jornal concentradamente enquanto as letras de uma placa de preço embaraçam as minhas vistas.
Peço um café e não há dinheiro suficiente, as moedas são contadas centavos por centavos.
O café e caro para uma pessoa que vive em um bairro conturbado de São Paulo.
O dinheiro só da para um café, nem aquele jornal em que a mulher fixa seus olhos o dinheiro não paga.
Dinheiro . . . moeda . . . papel valioso.
O dono do bar não olha nos seus olhos. Você pede um café e o mesmo sai em pouco tempo.
O café não vem em uma xícara igual o da mulher no canto do estabelecimento. O café sai em um copo mal lavado. Talvez o dinheiro que a aquela mulher tenha seja melhor que o meu dinheiro. Ela não mora no flat das paredes mofadas.
O gole de café desce arranhando a garganta, café amargo, vida amarga, dinheiro amargo, capitalismo amargo.
Acabo meu café e saio rumo ao trabalho, aquele caminho longo onde não há Sol que ilumine o mesmo. O tempo é nublado, a garoa cai na pele das pessoas e há uma sensação de angustia , frio , medo.
No caminho bate uma vontade de voltar ao flat. Farei isso , não trabalharei hoje , ficarei trancado no quarto pequeno das paredes mofadas e da luz amarela.
Deitarei na cama do colchão velho e afundarei em mais um dia de angustia.
Mais um dia de angustia . . .