Trazodona

Quando olhei para dentro de mim, só enxerguei um abismo.

A solidão e a falta de fé me fizeram saltar.

Pensei que seria uma saída, mas quando percebi que o abismo era infinito, desesperei. E com meu desespero, acabei criando asas.

Só que eram asas frágeis do tamanho do que restava do amor em meu coração. Pelo menos me fizeram parar no ar por mais que a inércia me empurrasse para baixo.

E parado, percebi que não poderia voar para lugar nenhum, mas pelo menos parei de cair.

Olhei ao redor e na escuridão pensei no pior.

Esquecer tudo e recolher minhas asas, mas não pude. Algo em mim não deixava que eu fosse tão covarde.

Pensei então em subir, mas já era impossível. Eu havia caído tanto que morreria sem chegar a lugar nenhum. E eu não tinha mais forças.

Arriscando tentei descer devagar, só que foi quase suicídio, pois senti minhas asas fraquejando e prontas para quebrar.

Parado no ar, sinto-me imerso em um grande nada. E minhas asas sentindo o peso de meu corpo. Meu coração já está descompassado e lento.

Meu orgulho impedia de gritar por socorro e mesmo que gritasse, quem ouviria?

Estou sozinho? Estou sozinho. Meus braços, recolhidos pelo frio, me acolhiam em um gesto sereno.

Eu só tinha a mim mesmo agora e precisava aprender a me amar.

Só que como amar uma pessoa que você mal conhece?

Não me vejo em espelhos. Não me vejo em reflexos. Nunca procurei me entender, portanto não era agora que tudo se resolveria.

E apesar de toda dor que eu estava sentindo, havia esperanças em meus olhos.

Resolvi abrir minhas asas ao máximo. Resolvi planar.

Planar sem fazer forças. E era muito arriscado, pois naquela altitude a pressão e o ar machucavam minhas asas e as feria, feria a ponto de sangrar.

Eu não tinha impulso e apenas deixei acontecer. De asas completamente abertas, caí numa vertical lento e vagarosamente. Estiquei os braços ao máximo acima da cabeça.

Por um momento parecia que não daria certo, mas logo me vi acelerando. O ar cortando meu rosto.

Medo e insegurança! Como sempre senti em minha vida. Continuei mergulhando.

Quando penso em fechar os olhos, toco um lugar plano e sólido. Terra firme, creio. Com medo e receoso, Fecho os olhos completamente. Onde estou?

Abro os olhos e me vejo em minha cama. Hora de acordar e dizer bom dia.

Ferrachi Abdtzen
Enviado por Ferrachi Abdtzen em 27/08/2014
Código do texto: T4939005
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