"A FAZENDA E O MAR" Conto surreal de: Flávio Cavalcante
A FAZENDA E O MAR
Conto surrealista de:
Flávio Cavalcante
Entre a imensidão do mar calmo e um lindo céu azul e sem nuvens. Estava eu em cima de um penhasco de solo batido e de coloração avermelhada. Uma espécie de argila. A visão era de tirar o fôlego. Banhistas desfrutavam dessa maravilha no mar agitado e o sol causticante. Dava para sentir aquela brisa gelada no meu rosto mesmo sabendo que o sol estava ali vivo e abrasador.
Eu fico estupefato como a nossa mente é capaz de produzir com tanta realidade e precisão tudo isto de forma a sentirmos cheiro, medo e outras sensações próprias do ser humano. E tudo está presente nesse conto surreal, além de deixar uma saudade indescritível.
Fiquei a observar o infinito por horas a fio, contemplando aquela imensidão. Em cima daquele penhasco de barro batido dava pra ver alguns banhistas desfrutando daquele lindo dia, Todos deitados na areia, aproveitando aquele sol para um bronzeamento perfeito. Apesar de muito longe do ponto que eu estava, vi claramente surfistas fazendo malabarismos em cima de suas pranchas como numa competição.
Meu momento ali era de muita reflexão. Sentia uma saudade tão grande que não consigo me expressar. Eu esperava algo que não ficou claro o que e por que eu estava esperando. Eu sentia certa ansiedade e era muito forte. O impressionante é que não se tratava de um sentimento ruim. Algo me dizia que alguma coisa muito boa estava chegando no porvir.
Num piscar de olhos o cenário mudou como se eu tivesse voltado daquele penhasco, mas a sensação continuava sendo a mesma. Cheguei numa espécie de fazenda. E algumas pessoas me recepcionavam num enorme quintal de uma casa grande antiga, parecendo casa de senhor de engenho. Muito verde ao redor. Muitas árvores frutíferas faziam sombras. Uma mesa no quintal cheia de guloseimas.
Minha mãe estava lá com aparência bem mais jovem e com um sorriso estampado no rosto servia algumas pessoas como se fossem convidados para a aquele momento solene. Do outro estava meu pai também mais jovial e com uma expressão de muita felicidade não conseguia tirar o olhar de mim. Apesar dele estar sentado numa cadeira espreguiçadeira feita de palha, também participava daquele momento de alegria. Não ficou bem claro para mim que tipo de festa era aquela e o que eles estavam comemorando. Na minha mente passava um longo filme e eu também estava banhado de uma imensa felicidade. Eu sabia que tudo aquilo poderia ser uma miragem até porque, por mais que me parecesse real, eu tinha certeza que meus pais já haviam falecidos. O tempo todo eu estava presente, mas percebi certa distância dos convidados que não me olhavam como se eu estivesse invisível. Nessa festa eu comi e bebi bastante, curtindo a minha felicidade e aproveitando aquele momento como se fosse o último momento da minha vida. E era realmente. Fui em direção aos meus pais, os abracei fortemente e os beijei dizendo que eu os amava bastante e estava com muitas saudades.
Acordei desse incrível sonho com o coração apertado, como se o meu interior não quisesse voltar para a realidade, o que me pergunto se eu não estava lá na realidade e devido a mente apagar, temos a sensação de que estamos sonhando.
Acredito que estão num lugar lindo devido aos sonhos maravilhosos que eu tenho com os meus pais, pois eles sempre se apresentam com muita alegria e isso me conforma bastante ter a certeza de que eles estão muito bem. O que não poderia ser de outra forma. Eles fizeram por merecer.
Flávio Cavalcante