O CÃO DA TORRE

Se tem uma multidão, então o melhor amigo do homem vai estar por lá. Sem compreender o que se passava, aquele pequeno animal, com feridas meio caprichadas pelas costas, circulava roçando as pernas das pessoas. Vez por outra, recebia uns tapetões e pontapés. Mas, assim como o jovem que tragicamente brilhava no alto da torre, o pequeno cão mantivera-se na condição irredutível. Enquanto aquela gente toda comentava sabe-se lá o quê, o feridento animal cheirava o chão. E achava uma coisa ou outra para beliscar. Ele também olhava para as faces das pessoas com aquela indiferença que somente os animais o fazem bem. Parecia não compreender o, também não mostrava-se muito interessado no tema principal da discussão. Um chute ou outro era o que de fato significava presença. Então, veio a queda.

Aquele moço jovem, quando caiu, assustou tanto o animal quanto as pessoas que o aguardavam. Parece que a presença da multidão o fez decidir ao salto. Parece que a expectativa do salto mantinha a multidão de prontidão. Mas, também parece que a presença do cachorro segurava tudo aquilo. E quem assistia de longe, e viu o animal fugir, concluiu também que aquele caso teve o seu desfecho. Trágico, ou não, acabou.

Quando veio a queda do moço, também chegou o fim as presenças das pessoas e do animal. Caíram também algumas convicções, algumas certezas e certas verdades. Caíram alguns falsos sorrisos estampados em caras falsas. Desceram certas expressões desfigurativas. Muitas mulheres também caíram em lágrimas. Caiu o picolé de um menino que, distraído, deixou o braço descer. A bolsa de uma senhora caiu. Um olhar caiu. O ar pesado desceu. E, uma grande dor subiu dispersando aquela multidão.