Ilha Dos Cristais
- Homem ao mar! - Gritou a voz grave do capitão enquanto eu afundava móvel, mas de olhos abertos.
O rastro de sangue ia se misturando com a água que, com os raios de Sol do fim da tarde, formava uma visão magnífica.
Aos poucos, fui deixando de sentir o corpo, de escutar e até de enxergar. Apenas o som de meu coração se fazia ouvir, como se estivesse ecoando em meu corpo vazio.
Estava prestes a desistir, quando uma corrente de água de forças inacreditáveis me levou para longe. Senti como se estivesse cruzando o oceano inteiro em meros segundos. Logo senti minhas costas atingindo a areia.
Recobrando o controle sobre meu corpo, fiz um esforço para levantar-me antes que morresse afogado. Ao tirar minha cabeça d'agua, deparei-me com uma visão ainda mais incrível que a interior, a Ilha dos Cristais.
Já havia anoitecido, mas os imensos cristais ao meu redor emanavam luzes coloridas fracas, mas suficientes para iluminar o caminho. A ilha é toda coberta por água, mas ao ficar em pé, apenas os joelhos ficam submersos. Uma vegetação relativamente alta ocupava as porções de areia e terra mais próximas dos cristais que, com seus tamanhos variando de poucos centímetros até três metros de altura, formavam caminhos pela ilha.
Ao olhar pra cima, avistei mais um espetáculo: o céu não estava apenas limpo e estrelado, mas também era adornado por luzes dançantes de cores lindas e intensas.
Comecei a andar pela ilha, por vezes quase me afogando devido ao cansaço. Quando uma luz diferente, mais intensa, tomou minha atenção. Era uma cabana simples de madeira que tomava forma ao longe, construída sobre o único montante de terra mais alto que a água.
Seduzido pela luz artificial da cabana, apertei o passo, tropeçando diversas vezes no caminho. Subi as escadas externas e, me deparando com a porta aberta, entrei. Analisei o interior do local, encontrando apenas uma cama ao meu lado, um baú ao outro e uma mesa com uma vela logo em frente, próxima à janela.
Como a vela sozinha conseguiu emanar tanta luz? E quem morava naquele local? Estava eufórico para entender o que acontecia, quando passos se fizeram ouvir logo atrás de mim.
E lá estava você.
Tão linda, de cabelos que apenas ultrapassavam os ombros, olhos castanhos que se disfarçavam de negros, pela tão branca e um vestido igualmente branco.
Que visão maravilhosa. O cenário atrás tornava tudo tão surreal. Uma lágrima escorreu subitamente de meus olhos assim que percebi. Sorri e disse:
- Eu estou morto, não estou?
Você sorriu de volta, tomou minha mão e me beijou vagarosamente. Logo em seguida, pude ouvir o cantar dos cristais. Um som incrivelmente belo e relaxante, com efeitos maravilhosos das ondas do mar.
Nos sentamos na escada da cabana, você encostou sua cabeça em meu ombro, e ficamos observando o show de luzes e sons da eterna noite na Ilha dos Cristais.