Literatura Sem Diagnóstico
Havia terra em minhas mãos, tiradas de um bueiro. De qual bueiro da cidade eu não me lembro, mas me lembro que havia um garoto. Ou dois. Ou três. Eram garotos. De onde eles vieram eu não me lembro.
Havia um cone em cada cabeça, a quem pertenciam essas cabeças eu não lembro, mas me lembro que nenhuma era a sua. Eu me lembraria.
Havia um paraíso, me lembro dele, mas não me lembro o motivo da inquietude. Era desastroso.
Havia confusão em minha testa. Interna ou externa? Eu não quero lembrar. Lembrar machuca, diagnosticar padroniza o caminho. Padronizar me tira da linha. Sem linha não tem caminho. Sem caminho não tem como estabelecer um padrão.
Haviam estrelas cadentes. Fluorescentes. Decadentes. Minha situação.
Havia desespero e esperança, mas não da sua parte. Nem da minha. Da nossa desesperança e da nossa inquietude.
Não havia mais eu, nem você. Só tinha terra.