Infernal
Eu vivo no Inferno.
Por pura e espontânea vontade, eu me acomodo no lugar menos desejado pelo homem. Apesar da constante dor insuportável da ardência imensurável proveniente das chamas eternas que me rodeiam, eu gosto daqui.
Primeiramente, a companhia quase nula de seres humanos é extremamente agradável. Sou uma pessoa solitária, a solidão do Homem é minha Solitude. Mas isso não precisa significar que não gosto de pessoas, muito pelo contrário, eu as amo como ninguém.
O Inferno me permite uma visão privilegiada dos sofrimentos, prazeres e lamentos humanos. Meu Amor pela humanidade se alimenta de tão valiosa informação, pois só assim, escolhendo trilhar o caminho da escória, sem me encaixar na categoria, é que posso finalmente compreender e ajudar alguém por inteiro.
Isso tudo significa que, quando eu cruzar seu caminho, só será por acaso se assim você o quiser. Pois minha ansiedade por salvar o mundo me prenderá às vontades dos outros enquanto ainda precisarem de mim. Não exijo recompensa, muito menos salvação. O fato de evitar constantemente que as pessoas venham para o Inferno não significa, de forma alguma, que quero sair daqui.
Mas existe uma dor ainda maior que as labaredas infernais. Uma dúvida gigante acompanhada por uma vontade cruel. Veja, meu Amor pela Humanidade é imenso, mas Satã ainda é meu melhor amigo, eu jamais deixaria meu lugar aqui. Por isso, uma inquietude monstruosa me abalada quando, em meu processo de ensinar e salvar alguém, acabo aprendendo e sendo salvo.
Eu não posso pedir para que alguém fique comigo no Inferno, é cruel e desumano. E por maior que seja minha paixão romântica por sua essencia, não posso negar que pertenço a este lugar demoníaco. Finalmente, um impasse. Seria algum ser humano forte o suficiente para assumir um lugar ao meu lado? Ou ainda, seria alguém capaz de me Amar em seu Paraíso e me aceitar em meu Inferno?
Quem sabe um dia alguém poderá se deitar em meus pecados e se alimentar de meu conhecimento? Mas enquanto o Paraíso de Heylel não se concretiza, irei aproveitar o doce sentimento de Amar o (seu) Amor na Solitude das chamas Infernais.