De perto...tão longe
Estava tão alto, como podia voar tão alto assim?
E lá de cima, poderia ver todo seu cardápio no chão, um lince nas alturas?
Fazia acrobacia, desenhava linhas imaginárias, dividia o Brasil do Belém a Laguna, como se fosse o Tratado de Tordesilhas; traçava novos horizontes, criando novas perspectivas; sugerindo uma cega justiça, como a linha do Equador, partilhava o mundo; e, como o meridiano de Greenwich, nos contava a hora certa
Um urubu desenhista, um urubu nos botando a imaginar, lá em cima não revelava rapinagem, não exalava catinga, era um desenho, ou fazia desenhos, no céu
Podíamos o imaginar com uma nuvem ao redor do pescoço pelado, um colar de flocos, já o vimos disputando velocidade com aviões, e dizem, que lá em cima, ele consegue ouvir acordes, não se sabe de onde, provenientes, se do céu ou da terra.
Acho que foi Armando Nogueira quem o anunciou vestido com roupas de gala, mas o preto dele, e suas preferências, como glutão, sugeriam mais um velório. Mas ele estava no alto, e de tão inacessível, tornava-se desejável, pretendido, como brinquedo sonhado por meninos que não ganham brinquedos no Natal.
A todo tempo fazemos apologia do lixeiro celeste, afinal o colocamos no alto, onde ele vivencia seu astral.
De preto, no éter e dividindo o que conhecemos, daquilo que está acima do que conseguimos ver, voava o urubu...nos levando a concluir que, se olharmos fixamente para o céu, estaremos, permanentemente na iminência de ver anjos