A antiga fazenda está localizada perto da Cachoeira do Cerradão

     Muitas pessoas contam sobre sustos, medos provocados por fenômenos sobrenaturais, coisas fantásticas que causaram de certa forma, terror a quem teve oportunidade de presenciar acontecimentos não explicáveis. Há quem afirme que assombração nunca aparece para mais de uma pessoa e que tais fatos são experiências individuais.

     Hoje restam apenas os escombros da fazenda de minha madrinha. Há quem acredite que aquele lugar sempre foi mal assombrado. Ali apareciam luzes misteriosas, mulheres vestidas de branco pelas estradas, cantigas noturnas de carros de bois...

     Durante a infância tive oportunidade de conhecer alguns cômodos daquele antigo casarão. Havia um quarto trancado a sete chaves. Dele, eu soube apenas que havia pertencido  ao filho da madrinha e à esposa dele. Ambos haviam morrido antes de completar um ano de casados.  Ele, de nome Artedes, morreu de câncer, doença que naquele tempo não se ousava pronunciar nem o nome. Ernestina, sua mulher faleceu alguns dias depois de morte misteriosa.

     Naquela fazenda tinha um enorme pomar com frutas variadas. Um rego d’água que mais parecia um riacho onde a água cristalina se dividia entre uma bica de madeira e um monjolo. Ali não havia crianças, pois madrinha não teve netos. Mnhas visitas àquele lugar eram sempre solitárias, o que não me incomodava nem um pouco, pois gostava muito dali, me sentia num paraíso. Esquecia do mundo subindo nas árvores, comendo frutas, colhendo flores, enquanto minha avó ajudava minha madrinha preparar um delicioso almoço, coisa que ela fazia questão de me oferecer, além de muitos doces, toda vez que eu a visitava.

     A única recomendação  era para que eu nunca entrasse na casinha onde ficava o monjolo. Vó Geralda achava perigoso para criança. Porém, eu tinha enorme curiosidade de conhecer aquele espaço. Do lado de fora só se podia ouvir o barulho e teimosa, um dia acabei entrando.

     Vi o monjolo de madeira, incansável a trabalhar dia e noite. Havia mais alguém naquele lugar... Lembro-me como se fosse hoje, da moça de pele muito clara e lindos cabelos pretos, sentada num banquinho fiando. Pedalava uma roca de madeira, tendo perto um balaio com várias meadas de lã coloridas.

     Ela parou de fiar e se ofereceu para descascar as laranjas que eu trazia nas maõs. Aceitei e enquanto conversávamos levou-me a um jardim que eu não conhecia. Pulamos um muro de pedras e dentro dele ficava um enorme canteiro, onde as únicas flores eram as dálias, de todas as cores e formatos. Nunca na vida eu vi tão bonitas flores quanto aquelas.

     Passamos uma manhã agradável e feliz, eu me sentia muito bem ao seu lado. Ela terminava de fazer duas tranças em meus cabelos quando me chamaram para o almoço. 

     Muitos anos depois, minha madrinha morreu. Eu já tinha uns 16 anos e fui ao seu sepultamento... Senti algo estranho quando parei em frente ao jazigo de sua família.

     Havia o retrato de seu finado marido e à esquerda numa moldura, a foto de um jovem casal. Um rapaz sério, de bigodes. Ao seu lado, uma bela moça de cabelos pretos e olhar terno, que  parecia me sorrir...

        
             O caminho ainda existe...

           
                Poço que fica nos fundos da fazenda

Fotos da autora



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Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 05/05/2014
Reeditado em 05/05/2014
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