A Loira do algodão (EC)

Nos anos 70/80 muito se falava da loira do algodão. Era uma história surreal, falava-se que os motoristas em altas horas da noite a encontravam nas encruzilhadas do Vale do Paraíba, nos banheiros dos restaurantes a beira da rodovia Dutra, uma linda loira de curvas exuberantes com algodão na boca. Nas escolas de nível primário era necessário colocar uma pessoa adulta conhecida das crianças para elas irem ao banheiro, se não fizessem isto as crianças faziam xixi nas calcinhas ou cuequinhas, tal era o pavor espalhado por este personagem.

Diziam que era uma loira que foi assassinada pelo marido quando a encontrou na cama com outro.

Nesta época, instalou-se em Cachoeira Paulista um dentista, mocinho, bonito, solteiro. Chamava a atenção da mulherada também devido a semelhança com um ator americano de algum filme que fez sucesso na época. Não me lembro qual, podia ser Dr. Jivago, Romeu e Julieta, Casablanca...O cara era pegador e também muito irreverente quanto a estas coisas do sobrenatural. Não respeitava nem as coisas religiosas, dos 10 mandamentos, só um, criado por ele "não cobiçais a mulher do próximo, principalmente se o próximo estiver próximo". Sua clientela era predominantemente feminina, a mulherada se insinuava e quando lhe agradava, arrematava, só filé.

Numa sexta 13 de agosto, final de expediente, a secretaria já tinha feito as limpezas de praxe para o encerramento do dia, entrou uma loira daquelas de fechar o transito. A secretária diz:

- O doutor já está indo embora.

Quando ele entra na sala analisa o material, vê que é gente de fora. Disse a senhora:

- A senhora está com alguma emergência? Parece-me que é de fora?

- Sim, estou com um dente me incomodando, gostaria que o senhor desse uma olhada...

O doutor resolveu dispensar a secretária e mandou a loira entrar no consultório, quando ela sentou-se na cadeira odontológica abriu a boca, os dentes muito alvos, perfeitos e sem nenhuma falha.

- Qual o dente a está incomodando, Senhora? - Muito respeitoso até este momento.

- Nenhum, seu bobinho, só queria conhecer o famoso dentista de Cachoeira Paulista.

- Ah! Então é isso?- Disse o dentista, meio surpreso e muito alegre.

Colocando a cadeira em posição horizontal e também se desfazendo do seu jaleco.

A moça com aquele sorriso enigmático disse:

- Calma Doutor, vamos com calma, tenho todo o tempo da eternidade. Depois quero uma boa limpeza nos meus dentes, ok?

- Pode deixar comigo, loira, você vai ter a melhor limpeza do mundo.

Ao terminar seu serviço extra-odontológico o doutor tinha estranhado muito, o corpo frio da mulher as reações insossas, ficou meio ressabiado. Voltou a cadeira à posição normal, colocou novamente seu jaleco. Preparou o material para fazer a limpeza combinada anteriormente.

A moça recomposta abriu a boca e o doutor começou o seu trabalho odontológico, quando de repente ele visualiza saindo da garganta um longo chumaço de algodão, estranhou muito, não tinha usado nada de algodão, foi sua última lembrança daquela tarde...

No dia seguinte, quando a faxineira chegou para fazer a faxina, encontrou o doutor desmaiado no chão de seu consultório.

Mudou de vida, depois deste episódio, virou um beata.

Este texto faz parte do Exercício Criativo - SURREAL, conheça os outros textos:

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