Morrer de amor
Karen estava desiludida. Era o terceiro namoro que não dava certo. Chorava dias sem parar. Mal se alimentava e só pensava em morrer.
O desejo da morte era tão intenso que a garota já estava pesquisando na internet sobre suicídios indolores. Ela não via mais motivos pra viver. Tudo sempre igual. Todos os namorados a abandonavam.
Numa tarde fria de inverno Karen estava assentada no branco da pracinha da igreja muito triste, pensando na morte. Tinha o olhar perdido, via os carros passando, as crianças correndo, mas nada lhe chamava atenção a não ser sua dor intensa.
Até que uma senhora, baixinha, negra de vestido azul escuro com florzinhas amarelas nas bordas e pequenos detalhes dourados se assentou do seu lado e começou a conversar.
- Que tristeza é essa minha filha?
- Dá pra perceber assim?
- Ô minha querida, eu estava lá na igreja e vi você aqui tão triste. De longe sua tristeza é notada.
- Pois é... Não dou sorte no amor. E sei lá sem amor não tenho forças pra viver... Queria acabar com tudo isso.
- Minha filha não fale assim não. A vida é nosso bem mais precioso.
- E de que vale a vida sem amor?
- A vida é amor! A sua vida é um gesto de amor... Talvez o maior gesto de amor divino. É uma dádiva!
- Não acho mais... Queria morrer mesmo. Não dou sorte no amor. Sabe que é essa dor?
- Eu acho que eu sei... Eu vi meu filho ser morto. Doeu muito, foi a pior dor do mundo. Mas eu continuei... Estou aqui. Não vamos comparar nossas dores querida, cada dor tem sua medida. Eu não estou dentro de você pra saber o quanto isso dói... Mas já vivi muito e passei por dores, elas não duram pra sempre...
A senhora então acariciou os cabelos de Karen e a garota sorriu e perguntou de uma forma quase infantil:
- Será que um dia alguém vai sofrer de amor por mim? Alguém vai querer morrer de amor por mim?
- Claro que sim...
A mulher se despediu, beijou a testa de Karen e voltou para dentro da igreja. Aquela conversa tinha sido tão reconfortante que Karen sentiu esperança. Quando olhou para o lado viu que a senhora havia esquecido um lenço no banco. A garota então pegou o lenço e correu até a mulher.
Ao entrar na igreja a garota em silêncio olha para todos os lados e não vê ninguém. E olhou para a imagem de um Cristo na Cruz.
- Viu só querida... Alguém já morreu de amor por você!
Karen se assustou e viu a senhora do lado da igreja que lhe sorria. Olhando a imagem de Jesus Karen acabou chorando muito, parecia que com as lágrimas saiam as dores. Depois enxugou o rosto no lenço da mulher. Aí que se lembrou dela novamente.
A senhora estava parada numa das portas da igreja e sorriu para a menina, depois continuou a caminhar rumo a um altar. Karen tentou ver para onde ela ia mas uma das colunas da igreja a impedia a visão. Então se levantou e correu atrás da mulher.
Para sua surpresa não havia ninguém naquele altar a não ser a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Negra, pequena, com seu manto azul e detalhes em dourados... E ela sorria para a garota.