"O HOMEM LOBO"
Antonópolis é um cidadezinha não mais do que dois a três mil habitantes olvidadas de tudo e de todos.Estacionou-se no seu tempo.Algumas de sua ruas assemelhavam fantasmagóricos desertos desprovidos de seres viventes.Algumas pessoas renunciaram a este lugarejo em detrimento do desprover de esperanças mais afortunadas em suas buscas.
No entanto,entre outras vielas haviam pessoas,que dentro de seus comodismos,já não se aventuravam no buscar das suas ambições.Dentre estas vielas se encontrava uma casinha em especial.Um tanto desabastadas de conforto quanto,ele Seu Zé,assim era chamado pelos moradores do lugar.Homem franzino,raquítico,que trazia como vestimentas uma alpargata feitas em tiras de couro com pneu.Uma calça de algodão de tear,presa por uma tira de couro amarrada na cintura que era confeccionada pela sua esposa que se gabava de seu feitio em ser uma exímia artesã.Uma camisa grossa do mesmo tear,cobria-lhe aquele corpo franzino.Sua cabeça era ornada por um chapéu de palha carcomido pelo tempo,onde as abas já um tanto desfeitas,sobrara não mais do que dois a três centímetros da abas a lhe cobrir aquela face que o tempo conseguiu traduzir em marcas profundas de sofrimentos.
Seu Zé,pois assim o chamavam,não gozava e tão pouco provia de afeto pelos moradores daquela vila.Trazia a alcunha de benzedor,alem do pseudônimo ultrajante de LOBISOMEM.Corria a boca pequena que o dito cujo homem em questão,se metamorfoseava nas noites enluaradas de cheias,na figura de metade homem a outra metade animal,ou seja,um lobisomem que saia a uivar pelas noites a dentro enquanto os moradores daquela corrutela se aferrolhavam dentro de suas casas em um tremor avassalador em causa dos uivos do maldito.
Havia naquele lugar ermo um alguém intrépido,alto forte,corajoso,que era não mais não menos do que o Sr.Manoel da Dona Sebastianinha.
Vivia a vangloriar-se de suas bravatas,mas, no íntimo se borrava todo quando desafiado a qualquer evento.Certa feita,na venda do Sr.Joaquim pé de anjo,cujo estabelecimento vendia de tudo.De mamando a caducando.Ali se reuniam naquele ambiente aconchegante,homens de boa fé e de boa família,que se afortunavam de uma boa conversa regadas a uma boa cachaça.No meio disto tudo alguém resolve desafiar o Sr.Manoel.Era Joãozinho farmacêutico e filósofo da turma.
-Manoel,porque não enfrentar o bichinho lobisomem já que é o homem mais corajosos e parrudo desta cidade?!
Proposta feita,proposta aceita.
-Ainda não quis,mas na hora que eu quiser pego ele de jeito com a minha espingarda de dois canos e faço ele de estimação.
Assim,se seguiram por várias horas aquele fartar de cachaças e o encorajamento ao Sr.Manoel em pegar o lobo predatório de ovelhas e equinos da região.
Sr.Manoel por sua vez,já com a sua carcaça a desaguar cachaça pelo ladrão,gritou bem alto em bom tom:-Pois sim,na próxima lua cheia pego este bichinho e faço ele de gatinho.
Todos ali se entre-olharam e começaram a rir das bravatas do Sr.Manoel.Os dias se transcorreram em plena harmonia naquele vilarejo e o Sr.Manoel era todo em cobrança pelo seu ato prometido.
O dia era três de agosto.Todos reunidos como sempre nos finais de tarde na venda de Joaquim pé de anjo.Joãozinho da farmácia,o filósofo,gritou a Manoel:E aí Manoel,amanhã é dia de lua cheia,não vai pegar o bicho?! - Daí é que vou pegar o bicho minha gente!
Todos uni-sonos bateram palmas para o Sr.Manoel como forma de encorajá-lo.
Dito e feito,dia quatro de agosto,Sr.Manoel em sua cozinha sentado sobre o rabo de seu fogão de lenha,estava a devorar o restante do almoço.Era todo pensativo em voz alta:-E agora,o que fui fazer em prometer este descalabro aos meus amigos?!-Como fugir? Se correr o bicho pega e se ficar o bicho me come.O jeito é enfrentar esta fera uivante.
O sol já se punha arrastando a lua garbosa e cheia.Sr.Manoel começou a tremer de medo.Tremia que nem vara verde.Sentado ainda em seu rabo do fogão,acabado o seu jantar,mais um vez dialogava com os seus botões:-Porque fui inventar um coisa doida desta meu Jesus!Enquanto pensava,começou o seu drama.Começou a ouvir o uivo do bicho ao longe.Cada vez mais se aproximando de sua casa.Suas calças no mesmo instante se molharam toda da cintura para baixo.Cada vez mais o uivo parecia já estar dentro da sua casa.O medo agora se transformara em uma avassaladora coragem.Foi ate o canto da parede onde se encontrava a sua espingarda de dois canos,pendurado por um prego e de arma em punho puxou a tranca da porta e saiu a rua a procura do bicho lobisomem.Era meia noite e meia.Constatou apos passar um olhadela no seu relógio Omega de bolso,o qual havia permutado com Sebastião em troca de uma viola velha e sem corda.Já não tinha tanta certeza se ia em frente ou se recuava à sua casa.Naquele instante veio-lhe a memória seus amigos zombando e rindo de sua covardia,mas no mesmo momento, apagou de sua memória aquelas visões constrangedoras.Seguiu em frente.
Ao virar a esquina deparou com dois metros de pelo em pé,meio homem meio animal com enormes garras afiadas no final de suas patas.Duas orelhas enormes em ristes e uma bocarra enorme pela qual escorria uma baba sedenta de sangue.Deu dois passos para trás enquanto o bicho deu cinco para frente.Foi quando Manoel sentiu o bafo ofegante e fétido nas sua fuças.Não chegou a sentir os seus dedos trêmulos a roçar o gatilho de sua espingarda e tão pouco quase não ouviu dois estampidos a trovejarem e ecoar por aquelas ruas desertas.Ouviu apenas um uivo enorme de dor,pós cair desmaiado e estatelado de morte pelo chão.
Todos naquela pequena corrutela ao ouvir os dois estampidos e o uivo de dor do bicho,saíram a rua em uma correria desenfreada.No meio daquela multidão alguém gritou:-Olhem la,é por ali.
Todos correram naquela direção.Ao se aproximarem depararam com dois corpos estendidos pelo chão que de pronto foram logo reconhecidos.O corpo do Sr.Manoel, e um pouco mais distante o de Sr.José,estático,decrépito estatelado pelo chão.Sr.José havia duas perfurações de grosso calibre sobre o seu peito,por quanto Sr.Manoel com a boca roxa,estava de lado com a sua espingarda a sua direita,morto pelo infarto do miocárdio.
Dia cinco de agosto,ao meio dia,por aquela viela percorria dois caixões de dois seres transformadores de opiniões.Alguns culpados pelo encorajamento ao Sr.Manoel,outros tantos pela perca de um grande homem e amigo.
Uns diziam:-É,ele foi muito corajoso em enfrentar a fera,homem macho mesmo.
Outros:-Bem que a gente desconfiava do Seu Zé,mas, não sabia que de fato ele era o verdadeiro Lobisomem.
Sua mãe,Bastianinha um tanto chorosa,desabafava como forma de um conforto:-Ele levou o meu filho,mas,meu filho o levou para os quinto dos inferno.
Assim se passaram os dias em plena harmonia naquela cidadezinha sem grandes alardes,mas em certas noites de lua cheia,ainda se ouve ao longe nas montanhas,o uivo condoído e lamuriante de um certo lobo.