O TIGRE

Registro de sonho de 28.4.2001 -

Ao chegar de viagem, encontro em minha casa um tigre domesticado, vivendo livremente pela casa.

Estive ausente a serviço (1), mas não sei onde estive. Talvez no Rio de Janeiro(2).

A casa é-me desconhecida, mas tem alguma semelhança com a casa residencial em Jales (3).

Um grupo de homens andrajoso (parecem ser hansenianos (4) capina a rua, na frente da casa. Converso com eles:

= Estão trabalhando para a prefeitura?

São pessoas muito humildes. Respondem-me sem levantar os olhos do trabalho:

= Não, estamos capinando a rua pra ganhar alguns trocados dos donos das casas.

Enny (5) e Lucinda (6) me contam que adotaram o tigre na minha ausência.

No primeiro dia sou tolerante com o bichano. O tigre é enorme, todo amarelo, com rajas negras pelo corpo, um belo exemplar, muito dócil. Mas logo se torna inconveniente, come demais, rói coisas por toda a casa.

Quando o tigre devora minha coleção de sementes coloridas de mamona (nas mais variadas cores, do mundo inteiro) (7) não agüento e estrilo:

= Quem é que teve essa idéia absurda?

= Foi a Norma (8) = Explicam Enny e Lucinda, com muita simplicidade e inocência.

= Mas não é possível que duas pessoas inteligentes como vocês se deixem influenciar por uma debilóide !

Dou um ultimato: ou o tigre ou eu. Se não mandarem o tigre embora, vou eu.

Mas a situação se complica quando Denise (9), que estava nos visitando, sai repentinamente na sua camioneta grande(10), levando Luiza e Laís (11), por causa do medo das meninas pelo tigre.

Notas

(1) Sou funcionário do Banco do Brasil.

(2) Estive no Rio de Janeiro, fazendo curso de Coordenador de Caixas-Executivos, entre 30.10 e 17.12.1970. A situação parece ser quando retorno dessa viagem.

(3) Cidade onde residi entre 1968/1972.

(4) Em Belo Horizonte, na década de 1990, havia, todos os sábados pela manhã, uma verdadeira procissão de hansenianos pedindo esmolas à porta de casa.

(5) Enny: minha esposa. Nessa situação, aparenta estar com m/m 35 anos.

(6) Lucinda: esposa do Chiquinho Fidelis Marques, meu primo. Ela nunca esteve em Jales.

(7) Fiz coleções de muitas coisas (selos, marcas de cigarro, rótulos de bebidas, álbuns de figurinhas, gibis, etc) mas nunca tive uma coleção desse tipo.

(8) Norma: minha cunhada, viúva de Arthur, meu irmão. Não aparece no sonho, mas a minha expressão, a seguir, revela bem a antipatia latente entre eu e ela.

(9) Denise: minha filha. Na ocasião dessa situação (1970, certamente) tinha 9 anos, mas aparece como adulta, casada (como realmente está em 2001).

(10) Camioneta grande: até o momento (2001) ela não teve este tipo de veículo, embora Vicente, seu marido, tenha uma Toyota para fazer trilhas.

(11) Laís e Luiza: filhas de Denise e Vicente, apresentam-se como em 2001.

ANTONIO ROQUE GOBBO

BELO HORIZONTE, 27 DE JUNHO DE 2002

CONTO # 165 DA SÉRIE MILISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 23/04/2014
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