JOSÉF E O GOLFINHO
Joséf, sentado a beira-mar, e com os pés banhados pelas ondas, que, numa sequencia constante; determinada pelo vento nordeste; de um final de novembro e tendo um forte repuxo das marés, esperava; esperava, como sempre fizera nesses dez anos de sua sobrevida, pelo causador desse privilégio que era, ainda estar por aqui e ali naquele local de tão marcante recordação..
Tinha nas mãos um potente binóculo de marinha, e com ele podia ver o horizonte e a imensidão do mar; aquele mar apaixonante, misterioso e imponente.
Seus sentidos estavam todos voltados para o lado sul e sua ansiedade era evidente, pelo suor que lhe escorria no rosto. Sorria! E junto ao sorriso, as imagens lhe surgiam como um filme gravado na memória; um filme com final feliz, mas que lhe provocava nesses anos todos, essa leve angustia da incerteza humana... Será que ele viria Será que mais uma vez teria o prazer de conviver, mesmo que uns poucos minutos com seu salvador.
A queda no mar! O desespero de estar só! O temor dos tubarões! E a certeza da ausência de qualquer tipo de socorro pela zona em que se encontrava.
Joséf via as cenas enquanto vasculhava o horizonte. As lembranças se convertiam em imagens. E repentinamente! Um leve movimento chamou sua atenção. Ajustou o binóculo e pode ver as barbatanas negras, singrando em direção ao ponto em que se encontrava. Joséf não tinha mais dúvidas: era seu amigo Lipi; com sua bela família de golfinhos.
O sorriso aumentou e, enquanto eles faziam o trajeto até a orla da praia, pode relembrar sua queda e seu acordar na beira do mar tendo a presença daquele belo animal, como a zelar por sua segurança a poucos metros de onde se encontrava. Uma amizade surgia, de uma fatalidade evitada, entre um homem e um animal selvagem.
Lipe, todos os anos, passava por ali; e, em todos aqueles dez anos, vinha fazer-lhe festa, como a celebrar sua grande amizade.
Joséf, incontinente, jogou-se no mar. E, indo ao encontro do golfinho, passou-lhe as mãos pelo dorso, beijou-lhe o bico e nadaram juntos em círculos como se crianças fossem.
Joséf, com lágrimas que se misturavam ao mar, teve a nítida sensação que essa seria a última vez que veria seu salvador. Voltou à praia com o coração entristecido e pode ver o amigo elevado sobre a cauda, afastar-se da praia, saltar de costas para o oceano e mergulhar em direção aos companheiros.
Algum tempo depois, jovens que por ali passavam, encontraram o corpo inerte de Joséf, com um sorriso nos lábios e os braços em posição de um abraço.
Gildo G Oliveira
09 -04- 2014