X (capítulo II) parte 1
Ainda à noite, o protagonista chega à frente de uma pequena casa velha, cercada por enormes prédios. A rua está escura, iluminada somente por poucos postes de luz. Ele olha cautelosamente ao seu redor, procurando vestígios de possíveis perseguidores. Como não encontra nada, decide entrar na velha casa pela porta da frente.
Ao entrar ele se depara com uma senhora idosa e mal vestida - a dona da casa. - segurando firmemente sua velha bengala.
- Você tá atrasado. - resmungou. - Passa logo.
O protagonista passa de cabeça baixa pela dona da casa e abre uma porta ao fim do corredor pelo qual entrou. Desce uma escada bastante depredada e chega a um porão, tão velho quanto a casa, cheio de estantes e coisas empoeiradas. Ao aproximar-se de uma das estantes puxa um livro, “Milagres da Tecnologia”. Ao abrir o livro é revelada uma série de botões - o livro é um controle. Ele repõe o livro no lugar onde estava e, então, parte do chão começa a afundar formando uma escada para um túnel escuro.
O protagonista desce as escadas silenciosamente, chegando ao túnel. A escada, agora às suas costas, volta a se fechar, deixando o túnel e o protagonista num breu completo, até que uma singela luz surge - uma porta de ferro se abre. Ao cruzar o frio e escuro túnel, o protagonista chega a uma pequena sala. A esquerda desta sala existe uma espécie de palco, com um grande computador com três monitores - controlado por Binnary, que sequer percebe a entrada do protagonista. A direita da sala há uma longa mesa cercada de várias cadeiras e um projetor, sendo ajustado por Daniel. Mais ao fundo, a esquerda, há uma pequena espécie de cozinha. Slash se encontra na pequena escada que dá acesso ao palco, manuseando uma adaga.
- Em fim o pequeno lobo voltou à alcateia. - ironiza Slash.
- Por que demorou tanto? Estávamos preocupados! - Daniel resmunga.
Somente então Binnary percebe a presença do protagonista, com um olhar discreto enquanto ainda estava na frente do computador.
- Cadê o dinheiro? - pede Slash agora, com um tom mais sério enquanto se levanta.
- Eu fui pego... - explica o protagonista ao tirar o capuz, revelando a antiga cicatriz na bochecha direita.
Daniel abaixa o rosto com um olhar de decepção, enquanto Slash e Binnary arregalam os olhos espantados.
- Como assim? O que aconteceu? - Slash pergunta.
- Eu já estava fora do prédio com o dinheiro, mas os guardas conseguiram me pegar. - diz o protagonista, enchendo um copinho descartável com café. - O Gordon tentou me interrogar, mas eu fugi a tempo.
Um repentino momento de silêncio surge.
- Alguém viu o seu rosto? - Daniel pergunta, preocupado.
- Só o Gordon, mas acho difícil que ele vá se lembrar. - responde.
- Eu consegui as imagens das câmeras do prédio. - diz Binnary, ainda sentado na frente do computador. - Já tá tudo no projetor.
Todos olham atentamente às imagens, admirados com as habilidades do protagonista. O silêncio se prolonga até o final da apresentação.
- Você o matou? - Binnary pergunta. - Matou o Gordon?
- Não, ele é necessário. - o protagonista responde. - As informações que ele...
- Como não o matou?!? - Binnary o interrompe, com um forte soco na mesa do computador.
- Hey, relaxa cara... - Slash tenta acalmar Binnary.
- O velhote vai nos descobrir! - Binnary retruca.
- O X está certo. - Daniel entra na conversa. - Precisamos correr mais esse risco se quisermos descobrir quem ou o que está por trás de tudo isso.
- Não, vocês não entendem! Vocês querem cometer o mesmo erro de novo? Não se lembram de como foi com a Luna?! - Binnary se exalta, levantando da cadeira.
O recém-criado momento de tensão acabara de ser interrompido, novamente, por um silêncio. Faces tristes e cabisbaixas cobrem toda a sala. O protagonista vira-se e anda rumo à porta de ferro, pegando a adaga de Slash tinha em mãos.
- Amanhã de manhã eu vou invadir o prédio de novo e, dessa vez, vou trazer o Gordon. - diz o protagonista ao colocar de volta o capuz. - Me encontrem de noite, em Ruelle Sombre.
- Você não pode ir lá, vão estar preparados para você. - Daniel retruca.
- Eu vou junto. - Slash se voluntaria, levantando-se da escada.
- É loucura! Isso é suicídio! - Daniel levanta.
- Ok, eu dou um jeito de cortar as comunicações do prédio. - Binnary entra na conversa.
- Tudo bem... - diz Daniel suspirando. - Eu apresento um plano até amanhã de manhã, então estejam todos aqui.
Tudo parecia perfeito. Durante toda madrugada Daniel ficou traçando planos, Binnary procurava modos de hackear a sem chamar muita atenção, o protagonista meditava e Slash dormia na mesa da sala-base.
O plano é simples: com a agenda da secretária do Gordon roubada tempos atrás por Slash, sabe-se que no dia 19 de todo mês há uma limpeza no exterior das janelas do prédio, realizada por dois limpadores - os quais já se tem endereço. O protagonista vai à casa de um desses limpadores bem cedo à manhã, o coloca para dormir, pega o seu uniforme e crachá e se direciona para o prédio. O monitor da sala de controle não será problema, já que todas as imagens das câmeras foram substituídas por gravações dos dias anteriores, e os olhos da mídia estavam ocupados com uma “maleta suspeita” no meio de uma das mais movimentadas ruas de Tenebron. Slash deve entrar pela porta da frente do prédio, abatendo qualquer guarda em seu caminho até a sala de Gordon, no sétimo e último andar. Assim que Slash entrar pela porta da sala, o protagonista, que já deve estar num andaime da janela que fica atrás da mesa da sala, coloca seu parceiro para dormir e quebra a grande tela de vidro, deixando Gordon sem qualquer chance de escapar. Os dois o levam desacordado para a “praia” de Tenebron - um gigantesco esgoto a céu aberto. Nessa praia eles entram por um dos vários tubos de concreto que despejam sujeira diretamente no mar, onde Daniel já está esperando. Seguindo adentro do escuro túnel, - que dá acesso às dezenas de linhas de esgotos de Tenebron - eles chegam a uma porta que dá acesso a base.
“A polícia está preparando o especialista do esquadrão antibombas para verificar se a maleta é realmente uma bomba.” diz uma repórter de televisão de um canal local de Tenebron.
O plano era simples.
Ao chegarem ao sétimo andar, o protagonista e o limpador se deparam com algo que ninguém esperava: estendido no chão sobre uma poça de sangue descansava o corpo de um homem - Gordon. - com um tiro certeiro entre os olhos. O protagonista deixa o esfregão cair e o limpador entra em desespero, chamando por socorro. Nesse momento Slash entra na sala abrindo levemente a porta que estava entreaberta, e se assustando com a imagem.
Não havia tempo para pensar. Os dois precisavam sair imediatamente do lugar. Slash levanta a cadeira de Gordon e dá um forte golpe na janela, a quebrando em milhares de pedaços.
- Quem é esse cara?! - pergunta o limpador, assustado. - O que nós vamos fazer?
Slash dá um forte golpe no tronco do limpador, que cai desacordado.
- X, você acha que o Bin seria capaz disso? - pergunta Slash, temendo que o companheiro tivesse acabado com o plano.
Nada lhe é respondido.
O protagonista fecha os olhos e inspira longamente enquanto pensa em todas as possíveis explicações para o caso. Slash faz o andaime descer e eles voltam para a base, cuidando para não serem avistados por algum civil.
Chegando na base, o protagonista e Slash encontram Binnary na mesa, esperando a chegada dos três.
- Cadê o Daniel? O que deu de errado agora? - resmungou Binnary.
- Bin... - Slash dá um leve suspiro de decepção. - Foi você?
O protagonista arregala os olhos, assustado ao tirar o capuz.
- Eu o quê? - resmunga Binnary.
- Binnary, invada todos os computadores do prédio do Gordon e extraia o máximo de informações possíveis! - ordena o protagonista.
- Mas se eu fizer isso eles vão poder nos rastrear... - reclama Binnary.
- Faça rápido! - o protagonista grita.
Binnary corre para o computador e o protagonista corre para um notebook próximo ao projetor da mesa.
- O que foi, cara?! - pergunta Slash, assustado.
- Slash, corra para o túnel da praia e busque o Daniel. Ele pode estar em perigo. - o protagonista ordena, enquanto tecla desesperadamente no notebook.
-... Tudo bem. - Slash responde.
Slash sai pela porta dos fundos da base, que o leva para um túnel.
- Eu não estou conseguindo pegar nada! É como se nada mais estivesse lá! - diz Binnary.
- Eu estava certo... - diz o protagonista com um olhar de decepção.
O protagonista começa a transmitir imagens do notebook para o projetor: um canal de televisão com imagens aéreas de um prédio em chamas - o prédio
de Gordon. Binnary olha às imagens horrorizado.