UM NOVO RECOMEÇO - PARTE I

Ano de 1753, decidi reerguer finalmente meus domínios, fazer valer o sobrenome que levo, em orgulho a minha espécie e a minha familia.

Reergui meu amado castelo, a beira de um penhasco, próximo ao mar, em uma região afastada, para que possamos manter a paz.

Ainda me acho meio perdida com a ausência do antigo senhor, mas mas me adaptei novamente, a vida continua, alias sempre continua para nós, seres da noite.

As coisas saíram como eu esperava, mas apenas alguns me acompanharam, a maioria preferiu ficar nas terras já conhecidas por eles, e é claro, eu entendi, rumo ao desconhecido é sempre perigoso.

Reuni alguns dos guerreiros, e meus filhos, que com certeza me acompanharam nessa empreitada.

Estamos felizes agora, em um reino repleto de prazeres e caça a vontade.

Nos mantendo ocultos entre humanos e outros seres, somos felizes aqui.

Em meados do inicio da primavera, vieram me solicitar que permitisse que atracasse um navio em nosso cais, um navio pirata, não me importei é claro, seria bom conhecer novas pessoas.

O capitão do navio, prontamente se apresentou, agradecendo a autorização porque já estava a muito tempo no mar, e precisavam de provisões para a próxima viagem.

Informei que ficávamos longe do povoado mais perto, mas mesmo assim ele atracou em nosso cais, o que em partes foi muito bom, conversar com ele, seria muito interessante, o novo mundo estava se abrindo.

Nos tornamos amigos, apesar das diferenças, não sei porque confiei nele, disse-lhe quem realmente éramos, e pedi que evitasse andar a noite por aquelas terras e que ordenasse aos seus tripulantes o mesmo, para que não tivéssemos problemas, ele concordou.

Passaram alguns dias atracados em nossas terras, e minha amizade com ele se firmava, me contava coisas sobre o mar e suas aventuras, encantava-me isso.

Mas meus instintos começaram a se alvoroçar, quanto mais ficávamos próximos, e isso era perigoso, desejava o sangue daquele pirata, o cheiro era diferente, e isso não era nada bom.

Meu desejo por ele aumentava a cada dia, e isso me preocupava, a tempos não me sentia assim, tão viva, mas não poderia me esquecer que ele era um Dom, e jamais me renderia a ele, ao menos era o que não pretendia fazer.

Somos o fogo e a paixão, desejo, loucura.

Então decidi me afastar dele, é nosso convidado com certeza e permanecerá em meus domínios enquanto desejar, mas evitaria a presença dele, será bem mais seguro, e assim foram passando os dias, me mantinha a maior parte do tempo em meu escritório, cuidando das obrigações a mim destinadas, certa tarde alguém bate a porta, é ele, permito que entre.

- Saudações Nobre Senhora, permita-me interrompe-la, espero não estar atrapalhando!

- De maneira nenhuma Capitão ! Precisa de algo? Algum problema?

- Não preciso de nada minha amiga, mas desejo fazer-lhe uma pergunta, posso?

- Certamente que sim, sente-se... aceite uma taça de vinho....

- Grato Senhora !

- Muito bem meu amigo, o que lhe aflige?

- Minha cara.. porque evita minha presença? Noto que sempre esta distante de tudo e todos, e passa a maior parte do tempo aqui, entre livros e papeis.. fiz algo que a incomodou?

- Perdoa-me Capitão ! Não tenho sido uma boa anfitriã.. mas as obrigações sobre esse reino devem ser cumpridas, espero que entenda, e sua presença não me incomoda.

Nesse momento a voz dele se torna doce e terna, sinto um arrepio..

- Não é o que parece Senhora ! A dias não vejo teu sorriso, que admiro tanto....

Abaixo a cabeça, meio sem graça e não sei o que responder, apenas sinto coisas que não sei explicar, e decido ficar calada.

- Tem coisas sobre mim minha senhora, que gostaria de dizer-lhe e peço que compreenda, que não fiz por mal, e que possamos nos manter amigos depois de tudo que lhe contar.

- Capitao, sei que es um pirata, e nada que me seja revelado não terá tal impacto, continuaremos amigos e nos respeitando como sempre e sera sempre bem vindo.

- Grato Senhora, venha sente-se ao meu lado...

Nesse momento ele pega minha mão, sinto uma corrente inexplicável correr entre nos, tento me afastar, mas ele não permite, então me rendo e sento a sua frente, então ele começa a falar e admito as revelações são mesmo preocupantes, mas me fizeram entender muita coisa em relação ao que sentia sobre ele.

Um vampiro exilado, era o que ele era... por isso não podia senti-lo por completo, ele ocultara-se para sua própria segurança, agora começo a entender, porque jamais o via se alimentar, mesmo junto a sua tripulação, ele fingia comer, tomava apenas vinho, que como eu era capaz de transforma-lo em sangue, eu presumo.

Mas entendo tal situação, porque como eu, exilou-se de tudo e todos de nosso amado mundo imortal, com dores que jamais poderão ser curadas.

Então ele mostrou-me como realmente é, com toda tua soberania, Senhor das Sombras, e senti-me estremecer... naquele momento sabia que nossos destinos estavam ligados, sabia que não conseguiria mais fugir dele, porque ele havia confiado em mim teu maior segredo, e mesmo sem querer aproximei-me dele, dei-lhe uma mordida em teus lábios.

- Teu segredo estará guardado Senhor, fique tranquilo!

Então ele me enlaçou pela cintura, e beijou-me tão ternamente, que não tive forças para me afastar naquele momento, também desejava-o, muito mais do que desejei antes, e isso me assustava demais, porque depois da morte de meu Senhor, não tinha sentido isso novamente, porque me mantinha fechada em mim, com minhas lembranças, as lembranças que me tornaram o que sou hoje, apesar de tanta dor.

E assim, esqueci de tudo a minha volta, e me entreguei aquele desconhecido, sem medo, sem pressa, queria-o apenas naquele momento, foi tudo tao maravilhoso, mas admito que depois de tudo me senti por demais envergonhada por ter me comportado assim, atitude atípica demais a minha conduta. Então ele me disse:

- Não fique assim minha amada Emini, não fez nada de errado, apenas seguiu teus instintos e ambos desejávamos isso a muito tempo, agora sabes disso!

- Eu sei...

Respondi ainda de cabeça baixa, estava completamente desarmada perante aquele que tocou minha alma novamente, e por demais assustada por isso.

Então, tentei me recompor e agir como se nada houvesse acontecido, mas jamais seria a mesma, sei disso, depois de provar-lhe o sangue e me entregar a ele, fiz menção de me retirar, mas ele segurou-me pelo braço, fazendo-me virar pra ele, e me perder novamente em teus olhos, agora tão transparentes a mim e disse:

- Prometa que não fugirá mais de mim!

- Não posso prometer tal coisa senhor... sabes disso! Tenho um certo medo do Senhor, mas tentarei me manter mais presente, tens minha palavra.

- Não tenha medo de mim, doce senhora, todos podem ter menos você... somos iguais, lembre-se disso.

E beijou-me calmamente, tentando acalmar minha alma, deixei-me ficar em teus braços, sentindo o coração descompassado, então seguimos por entre as passagens secretas do castelo até nossos aposentos, precisava ficar sozinha.

Entao nos separamos, com a certeza que nos encontraríamos mais tarde.

Me tranquei em meus aposentos, não queria falar com ninguém, precisava escutar o tumulto de minha alma, a loucura dos meus pensamentos e tentar me reencontrar novamente, voltar a ser a Soberana, sem alma e sem coração que todos conheciam, mas sabia que agora seria impossível. Quando a tempestade passou, mais lucida em meus pensamentos, deixei meus aposentos e retornei ao convívio de todos, mas realmente desejava não encontra-lo naquele momento.

Entao ao cair da noite, sai... necessitava de sangue fresco, precisava esquecer o que aconteceu, então segui para um povoado distante de minhas terras em busca de minha vitima.

Adentrei em uma taverna, seria fácil encontra-la ali, quando de repente o vejo entre os homens ali, nossos olhares se cruzam, sinto meu corpo estremecer, penso em recuar, mas e tarde demais, então me sento em uma mesa afastada, perdida mais uma vez em meus pensamentos, quando um dos vassalos entrega-me uma taça de vinho e um bilhete, era dele.

- UMA ADORAVEL NOITE MINHA SOBERANA, BOA CAÇA... ESPERO-TE EM TEUS APOSENTOS MAIS TARDE. BLOOD KISSES

Senti minha pele queimar, olhei em volta ele já não estava... e mais uma vez aquela avalanche de sentimentos me afligiu, e fiquei a pensar, que ousadia invadir meus aposentos, talvez ele não fizesse isso, tentei esquecer tal assunto, estava ali pra caçar, me alimentar, e assim o fiz.

Depois de uma noite proveitosa, abri minhas asas e retornei ao meu reduto, onde estaria protegida de tudo e todos, sempre deixava a varanda aberta, e pousei nela, admito vascilei um pouco para entrar em meus aposentos, e se fosse verdade? E se ele estivesse ali a minha espera? Deixei que meu coração e minha alma se acalmassem, só então entrei.

Olhei a volta e não o vi.. talvez tivesse desistido, ou visto que não seria adequado tal ato, então dirigi-me a banheira, tomaria um banho, tentaria relaxar so então adormeceria.

Quando retornei ao meu quarto, la estava ele, sentado em um dos sofás, teu olhar era encantador, sedutoramente perigoso, mesmo pra mim, olhava-me como se fosse tua presa da noite, e admito que isso despertou em mim um desejo que não tinha sentido ainda.

Então lembrei-me estava apenas de toalha, senti meu rosto queimar, então ele sorriu e estendeu-me a mão.

- BOA NOITE MINHA AMADA, ESPERO QUE TUA CAÇA TENHA SIDO PROVEITOSA.

- Muito senhor, e a sua?

- FOI BOA... MAS NÃO VIA A HORA DE RETORNAR A TEUS BRAÇOS...

Tentei agir normalmente perante ele, mas era realmente impossível, senti-lo tao perto, sentir teu desejo, teus olhos a me observarem, então me rendi mais uma vez, e nos perdemos nos braços um do outro, como se não existisse mais nada além de nos.

A noite foi maravilhosa, nunca me senti tão femea, tão amada e tao desejada assim, acabamos adormecendo um nos braços do outro.

Quando despertei, parecia ainda sonhar, olhei pro lado, ele não estava, senti-me um pouco frustrada com isso, mas talvez seja melhor assim, evitaria o constrangimento de olha-lo nos olhos mais uma vez. Fiquei por mais algum tempo na cama, relembrando tudo que vivemos, e meu corpo ainda sentia a pressão do dele, de tua boca e tuas mãos em mim.

Foi algo extremamente enlouquecedor.

Condessa Drakon
Enviado por Condessa Drakon em 03/04/2014
Código do texto: T4754434
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