Fábula Contemporânea 5
Equilda Flor
Equilda Flor era uma égua linda e prendada que só não entrou em competições porque estava destinada à reprodução de cavalos lusitanos, casta de onde provinha. Sabia todos os passos de apresentação da tourada à portuguesa e, enquanto aguardava por garanhão, teve oportunidade de conhecer e apreciar o jovem Burraldo Orelha. Sentiu pena dos esforços que fazia nas lides pesadas da Quinta, escutou-lhe os desabafos e… apaixonou-se. Daí para a frente recusou todos os pretendentes. Se não podia cruzar-se com o seu amor, por sua vontade não o faria com mais ninguém nem mesmo com o galã local, Cavalino de Pança e Alter, de seu nome completo.
Resistiu a pressões e a rogos, a pancadas e a festas. Como a obrigaram a submeter-se à vontade do dono,deixou de comer como protesto. Morreu anorética mas não abriu os noticiários das televisões nem veio nas primeiras páginas da Imprensa Nacional.O amor perfeito nem sempre é o afeto conveniente.