Fábula Contemporânea 13
Tem cada um o que merece?
Não cresceram juntos nem tiveram formação comum. Não eram da mesma terra e se a vida os juntou foi apenas pelo que tinham de parecido no caráter ou na falta dele. Simão Oliveira, Chico Loureiro e Símio Lima protagonizaram enormes desfalques e ardilosas falcatruas na Banca Nacional e acham merecer a riqueza por, na verdade, o povo só ser útil para sofrer por eles e para pagar os prejuízos. Isto concluiu a Polícia depois de escutar esta conversa telefónica entre dois dos grandes macacos envolvidos: - Foi uma jogada inteligente, amigo Símio Lima! Pena foi a história da Rosalina ter corrido menos bem, disse cheio de grande simpatia o Simão Oliveira, macaco chefe na extinta Administração do Banco, quando ligou para a bela mansão-árvore onde está obrigado a permanecer com a pulseira eletrónica numa pata. Sim era um golpe de mestre, caro Simão Oliveira, concordou Símio Lima coçando a canela onde tinha uma dermatose de contacto. - Pena haver imponderáveis de monta em qualquer negócio deste género, comentou meio apático e acrescentou: - É tudo uma questão de sorte. Veja, por exemplo, o caso do nosso grande amigo Chico Loureiro. Não é mais inteligente, não foi mais cuidadoso, não pagou o silêncio a tanta gente como nós nem foi forçado a divorciar-se para preservar os lucros e, ainda assim, deu-se bem e vive, magnificamente. A princípio ainda temeu que a Justiça lhe travasse o passo mas bem se viu a força das amizades, a incredulidade oportuna do gorila presidente, a fragilidade da Justiça nesta floresta de cegos e espertos. A impunidade é para os fortes que a merecem, concluiu. - Na verdade, amigo, nós somos a casta superior, declarou, cheio de razão, Simão Oliveira e continuou: - Se o céu também pudesse comprar-se ou a entrada do Paraíso estivesse tão desatenta como o Banco de Portugal o nosso grupo seria feliz para sempre.