Arrependimento
Não consigo sair da cama. Meu corpo pesa, minha vontade é fraca, minha vida, uma merda. Não consigo me olhar no espelho, meus olhos fecham, minha face retorce, meu peito, chora. Não posso ser feliz, minha alegria não existe, minha satisfação morreu, minha vontade, inexistente. Quem me dera uma mão amiga para me consolar, um olhar conhecido para me incentivar, uma pessoa contente para me contagiar. Quisera um dia sair dessa cama, apenas andar, sem rumo, deixar o quarto, correr livre, sentir o sol no rosto, o vento no cabelo, a maresia na pele, o suor correndo pelas costas, as pessoas rindo, falando, os bebês gritando, as crianças sendo crianças. Quisera eu um dia, sair dessa cama. As pessoas me diziam que eu era o centro de suas vidas, essas pessoas não existem mais, não, elas me deixaram sozinho nessa cama. E minha mente prega peças. Eu ouço os passos que nunca chegam, eu ouço os risos que já passaram e as palavras de amor sussurradas sem pudor num tempo-espaço tão longo que me faz sentir fraqueza. Eu perdi tudo, perdi tudo. O que restou foi o que chamo de cama. Um confortável caixão de madeira maciça, envernizado, coberto de lágrimas, a sete palmo sob a terra, com uma bela tumba, em ladrilho azul e branco, com uma bela inscrição: Aqui jaz, filho amado, marido confiável, pai amoroso. Mas eles esqueceram de completá-la com 'filho da puta egoísta'.
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