Partes
Saudade do que me arrebata sufoca queima por dentro seca a boca tira o fôlego provoca ânsias e anseios.
Por qual esquina deixei essa parte?
Ficou vendo o oceano, confabulando explicações para a cor do céu, decifrando pontos cardeais em um relógio de sol feito com um palito de sorvete já devolvido pelo mar vezes e vezes? Está na areia, sentada, vendo refletida a ressaca que carrega no peito querendo que as ondas levem para fora aquilo que inquieta por dentro?
Ou será que está na varanda do prédio vendo os aviões passarem, contando quantos apartamentos ainda estão acesos e o que seus habitantes fazem. O que será que pensam? A criança chora de manha ou fome? Se cair daqui, será que morre?
Quem sabe a encontro nos espelhos dos banheiros públicos em uma discussão ferrenha cheia de raiva, ofensas, conselhos e mágoas guardadas por um par de olhos vermelhos.
Ou tenha se deitado no sofá da sala para ouvir o vento a sacudir as folhas dos coqueiros pedindo silêncio enquanto gotas de chuva batem no vidro com a mesma fúria que o coração um dia bateu.
Mas, talvez, esteja só por aí, andando sem rumo, procurando pelas esquinas as partes do que um dia já foi.
O.M.