Muito Longe do Fim Décima Sétima Parte
Ambos tínhamos lágrimas nos olhos. Os suicidas têm sempre muito a chorar.
- O Alê e eu, a gente se conhece desde criança. - contei. - A gente sempre teve uma ligação muito forte, mas por outro lado, a gente brigava muito também, sabe? Eu agora fico pensando no motivo daquelas brigas idiotas...
Florbela sorriu.
- Existem relatos de irmãos gêmeos que lutavam no ventre materno. - disse ela. -Champs, eu também estive muito tempo no Vale dos Suicidas, também sofri muito lá...
- Você também comeu morcego assado? - perguntei, rindo e chorando ao mesmo tempo.
- Sim - ela respondeu - Mas um dia, quando os mentores espirituais julgaram que eu já havia passado lá tempo suficiente para expiar meu pecado, então ele me resgatou de lá... meu irmão. Desde então ficamos juntos, e somos muito felizes... agora sim eu posso seguir em paz, Champs, essa jornada da eternidade, porque já paguei meu pecado... e Apeles é muito mais que um irmão, ele é minha alma gêmea!
- E onde vocês moram? - eu quis saber.
- Numa cidade semelhante a esta, não muito longe daqui... numa casinha encantadora como essa onde vocês dois moram. Champs, meu amigo, o que eu tenho a lhe dizer é que você e Alexandre são almas gêmeas também!
Estremeci ao ouvir aquilo. Florbela continuou a falar.
- Sim, ele é a sua metade eterna, seu complemento, como Apeles é o meu. O fato de vocês brigarem tanto no passado, era o medo que ambos tinham de se aprofundar mais na natureza desse sentimento. O conselho que lhe dou é: Entregue-se a esse amor! O amor puro e verdadeiro, o amor da alma não idade, nem sexo, nem limites. é pura e simplesmente amor, a força mais poderosa do universo, pois Deus criou tudo o que existe por amor!
Eu a ouvia numa espécie de êxtase. O rosto de Florbela parecia transfigurado por uma luz divina. Ela então me entregou alguns livros que trazia consigo.
- Aqui está, tudo o que escrevi quando estava na Terra.
Fiquei muito feliz com o presente.
- Muito obrigada, Florbela, você é muito gentil! Você ainda escreve?
- Sim, mas agora meus poemas são muito diferentes. Só canto a luz e a alegria.
Ela se levantou e eu fiz o mesmo.
-Bem, tenho de ir agora... foi um prazer conversar com você, Champs. Pense no que eu lhe disse.
- Vou pensar, sim, Florbela... embora eu saiba que é exatamente isso. Muito obrigado pela visita e pelos livros.
Pensei que ela sairia flutuando, mas simplesmente desapareceu na minha frente, em meio a uma nuvem dourada.
Entrei, sentindo um cheirinho apetitoso de comida. Alexandre estava na cozinha preparando nosso jantar.
- Ela já foi- falei. Trouxe esses livros pra mim.
- É muito simpática, disse Alexandre servindo o macarrão com molho branco. -Vem jantar, Passarinho, estou varado de fome...
- Eu também. - respondi, sentando na mesa. Durante o jantar, só conseguia pensar nas palavras de Florbela. Alexandre era minha alma gêmea, meu eterno amor... mas, será que ele sabia disso?
CONTINUA