Muito Longe do Fim Décima Primeira Parte
Era uma casinha branca, como todas as outras. Rosas vermelhas floresciam no alpendre e em volta das janelas, perfumando o ar. Havia cortinas xadrez nas janelas. Tudo tão lindo, tão acolhedor... os espíritos socorristas nos disseram para entrar e descansar, que no dia seguinte eles voltariam para nos levar até Administração. Nos desejaram uma boa estada ali e foram embora flutuando pelo ar.
Alexandre e eu entramos. Era uma casinha pequena, tinha apenas quatro peças, mas era linda! Na sala havia um sofá, algumas cadeiras e uma mesa redonda coberta com uma toalha branca e, sobre ela, um vaso cheio de flores frescas. A cozinha era equipada com microondas, um freezer cheio de coisas boas pra comer, um armário cheio de bonitas louças, o banheiro era todo de azulejos azuis e tinha um chuveiro - ah, que vontade de tomar uma bela chuveirada! - e então fomos conhecer nosso quarto.
O quarto também era pequeno, mas muito gostoso. Tinha um guarda-roupa e duas camas de solteiro com lençóis brancos. Sobre uma mesinha de cabeceira estavam meus livros. Fiquei feliz que eles estivessem ali. Na capa do livro, Florbela Espanca me encarava com seus olhos negros e tristes.
Alexandre se jogou sobre uma das camas, deliciado.
- Ah, que lugar maravilhoso, cara! Agora sim, vou poder cuidar de você direito...
Eu sorri comovido.
- Mais do que você já cuida, Alexandre?
Ele sorriu e se espreguiçou.
- Que delícia... nem lembrava mais como é dormir numa cama...
- E eu estou doido pra tomar um banho decente... - respondi, começando a tirar a roupa. - Vem! O último que chegar é a mulher do padre!
Alexandre correu atrás de mim, também tirando a roupa, e nos metemos juntos debaixo do chuveiro. Havia uma esponja macia e um sabonete líquido de um perfume desconhecido e delicioso. Estávamos felizes demais, como dois resgatados do Inferno que éramos, nos lavamos e brincamos por muito tempo debaixo daquela ducha maravilhosa... estávamos acabando de nos vestir quando bateram na porta. Pensamos que era o Peu e a Lavínia... mas não. Diante de nós estavam Marcão, Renato Pelado e Bruno Graveto.
Passada a surpresa inicial, caímos nos braços uns dos outros. O Charlie Brown Jr estava todo ali, reunido outra vez! Eles disseram que a partir do dia seguinte iríamos começar a ensaiar, e o quanto haviam sentido nossa falta e esperado por aquele dia do reencontro.
Foi aí que me caiu a ficha... fiz uma pergunta meio boba.
- Mas... se vocês estão aqui, então vocês já morreram também?
Eles riram muito.
- Claro que sim, maluco! A gente já morreu há muito tempo! Ou você não sabe que lá na Terra já estão no ano de 2078?
CONTINUA