Muito Longe do Fim Décima Parte

O pouso foi tão suave quanto a subida. Sentimos o doce aroma das flores, um cheirinho suave de mel,e aquilo foi um bálsamo para nós, que por tanto tempo respiramos o fedor do Vale dos Suicidas... havia também muitas árvores frutíferas, carregadas de maçãs, laranjas, pêssegos, tão grandes e bonitos como eu nunca vira iguais. O céu sobre nossas cabeças era de um azul puríssimo e infinito, como uma jóia. Tudo ao nosso redor evocava paz e acolhimento. Lavínia, emocionada, começou a chorar no ombro de Peu. Eu também tive vontade de chorar, mas tive vergonha de fazê-lo na frente de todo mundo, e engoli as lágrimas.

Os benfeitores espirituais nos guiaram por uma estradinha revestida de algo que parecia ser minúsculos cristais coloridos, que rangiam sob nossos passos. De cada lado, canteiros de amor-perfeito.

Durante a caminhada, o bondoso senhor grisalho nos explicava como seria nossa vida ali. Teríamos uma casa só para nós dois, Alexandre e eu. Peu e Lavínia teriam uma casa só para eles. Para a alimentação, tínhamos todas aquelas frutas à nossa disposição, e se isso não nos fosse suficiente, também havia pão, ovos e leite. Não se comia carne ali.

Atravessamos uma ponte de madeira sobre um rio de águas cristalinas e com algumas cachoeiras, a coisa mais linda que se possa imaginar. Que vontade de dar um mergulho... Alexandre veio para o meu lado e me abraçou.

- Que lugar lindo, não é, Passarinho?

- Lindo demais, Alê... - respondi. - Será que do Inferno a gente veio para o Céu?

Logo chegamos nas primeiras ruas da cidade. Ali moravam cerca de 50 mil espíritos, nos explicou uma das moças da equipe. O nome da cidade era Imaculada, uma referência a Nossa Senhora, que é a Mãe especial de todos os suicidas. As ruas eram revestidas dos mesmos cristais coloridos e as casas eram todas iguais, simples e pintadas de branco, rodeadas de jardins bem cuidados. De algumas vinham sons de vozes alegres e música. Peu colheu um amor-perfeito e o prendeu nos cabelos de Lavínia. Alexandre colheu disfarçadamente um outro amor-perfeito, lindo, roxo e amarelo, e o colocou dentro da minha mão. Eu o escondi no bolso da minha calça jeans, feliz e envergonhado.

Os amigos de branco deixaram Peu e Lavínia deixaram Peu e Lavínia diante da casa onde eles iriam morar. Demos tchau e seguimos andando. Esta será a casa de vocês, eles disseram, parando. Entrem e fiquem à vontade...

CONTINUA

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 23/01/2014
Reeditado em 10/03/2014
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