Máquina de moer carne

Galera dessa Faces & Bocas, hoje no trabalho, enquanto eu carimbava alguns documentos, me bateu uma sensação estranha de que eu era uma daquelas máquinas antigas de moer carne. Foi uma sensação muito estranha mesmo porque, apesar de eu me enxergar gente por fora, por dentro, eu me sentia uma daquelas máquinas. Será que isso é humano, tem cura?! – pensei. Pois é, comecei a me preocupar, pois no mês passado postei aqui mesmo que eu me sentia um enorme Baobá e, como vocês já sabem, deu no que deu. Agora, me veio essa sensação esquisita de máquina de moer carne. Vá entender...

Se comparado com a sensação anterior, dessa vez não durou mais do que uma hora, mas foi o bastante para que, como tal, eu cravasse um olhar de “máquina mortífera” no visor do sistema de segurança interno, vendo, então, quando chegou até o guichê de atendimento uma mocinha, dessas que são viciadas em ajeitar o cabelo atrás da orelha. De cara, ali eu enxerguei um filé mignon. Colado ao seu lado, quase a esmagando contra o balcão, estava um enorme contrafilé de um metro e noventa. Esses dois tipos de carne poderiam ser processados juntos - avaliei.

E fui vendo todas aquelas pessoas como carnes, desfilando na minha frente, prontas para serem moídas: alcatras, chãs – de – dentro, patinho, lagarto... não, o acém, não, o acém, não! – eu estava preocupado com a minha integridade de máquina - alguma reminiscência latente me recomendava fugir do acém. Fugi com o olhar.

Foi esquisito eu me sentir uma engrenagem moedora de proteína animal, vendo todos aqueles bifes passando na minha frente, algumas chuletas ao ponto, um enorme cupim meio cru e bastante ponta de agulha charqueada. Senti um arrepio profundo quando a imagem do osso do tutano congelou na tela e ele pareceu me reparar, afinal, eu era a máquina; ele, o candidato à moagem - me meter com gente desse tipo, poderia significar a minha pane eterna.

Senti um alívio enorme quando alguém, tocando no meu ombro, me chamou para almoçar no refeitório; isso me fez sair daquela espécie de transe. Já vou, avisei, - eu trouxe picadinho de chuchu com macarrão e... carne moída.

Masé Quadros
Enviado por Masé Quadros em 22/01/2014
Reeditado em 22/01/2014
Código do texto: T4659570
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