SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

Sonho de uma noite de verão

Letícia Isabela estava a dez minutos de realizar o sonho que acalentava há mais de uma década. Adolescente conhecera José Sérgio, por ele se apaixonara e se entregara no segundo encontro. Foram muitas idas e vindas nos longos treze anos de namoro. Todos esses pensamentos passavam por sua cabeça toda enfeitada, seus olhos piscavam como dois relâmpagos na noite chuvosa. Enquanto caminhava majestosa até o altar, o filme ia rodando na sua cabeça.

Estava tão extasiada com a realização de seu sonho que não sentiu os olhares dos convidados, não enxergava nada a sua frente, apenas o altar, o sacerdote, as flores e as velas acesas. Estava numa embriaguez inconsciente tamanha era sua excitação. Ela subiu ao altar, mas ficou esperando ao lado, pois José Sérgio ainda não havia chegado. Estava decepcionada. Não era isto que tinha planejado nos mínimos detalhes de seu sonho.

Meia hora depois, a maquiagem começava a se desfazer, Letícia Isabela já ouvia o burburinho que começou a correr de boca em boca, de orelha a orelha. De repente, começa a tocar a marcha nupcial, ela olha para o padre, para os padrinhos, para o padrasto, para a mãe, para o padrasto de José Sérgio e para a irmã mais velha de seu amor. Onde está José Sérgio. A música continua a tocar, parece que a música repete o refrão sem parar, um vento forte começa a assoviar lá fora, os convidados olham para a entrada da igreja, e não veem o noivo chegar. Uma forte chuva começa a cair fazendo um tremendo barulho, de repente, as luzes se apagam, e uma forte rajada de vento, fechas as portas da pequena capela, e apaga até mesmo as luzes das velas.

Letícia Isabela começa a chorar, seu sonho todo desfeito. Começa a lamentar mentalmente, a sua tristeza. Tantos anos esperando, quando chegou a hora de seu sonho se transformar realidade, desabou tudo de uma só vez. A chuva, o vento, e o medo dos convidados na igreja, sem saber o que fazer.

Foram apenas poucos minutos de desespero. Os funcionários da igreja colocaram velas e começaram a acender, foram passando para os convidados e o que antes era escuridão transformou-se num colar de chamas pequeninas mas vibrantes.

Alguém abriu a porta e no meio dos relâmpagos, ele apareceu. Ela o olhou espantada e feliz, lá estava ele finalmente tinha chegado, quando ele se encaminhava para o altar com suas roupas molhadas, um relâmpago cruzou os céus, e penetrou pela porta. Letícia Isabela levou um susto tão grande e fechou os olhos instintivamente.

Não queria ver, ouvir, nem estar ali, no meio daquela multidão, com velas nas mãos rezando, desesperadamente, pela alma de José Sérgio que acabava de ficar ali esticado no chão da igreja, vítima de uma descarga elétrica.

Letícia Isabela não compreendia mais nada, na sua cabeça tudo se misturava, o sonho de toda a sua vida, rolando ainda em sua mente, mas ao mesmo tempo a realidade presente, lhe sufocava, cada vez mais. Ela não podia chorar, a chuva já derramava suas lágrimas, e a terra as recebia em seu seio seco e murcho. Letícia Isabela lembrou-se das palavras da feiticeira: “É minha filha, vou fazer o trabalho direitinho, vamos ver se desta vez, ele resolve casar com você. Não posso garantir nada, só o Pai maior sabe o que será melhor para vocês. Ele é um bom moço, mas casar não quer não. O trabalho pode dar certo, mas depende da vontade do Pai maior”. Letícia Isabela insistiu com a feiticeira para fazer não só um trabalho, mas sete para garantir a amarração e finalmente casar. Lembrou-se de suas palavras, quando saiu pela última vez da casa da feiticeira: - “Eu pago, o que for preciso, mas José Sérgio é meu, ele tem que casar comigo”.

Os minutos foram passando, as velas começaram a ser substituídas e o que seria uma cerimônia de casamento, se tornou em uma missa de corpo presente.

Letícia olhava para os lados, procurando ainda no escuro, alguma coisa que a fizesse acreditar que aquela não era a sua realidade. Foi então que começou a ouvir as vozes de uma ladainha em latim, e começou a ver muitas figuras diabólicas aproximarem-se dela. Ela gritava, gesticulava e não sabia o que fazer para não ver, nem ouvir as figuras que começavam a se aproximar dela. De repente, todo mundo começou a chegar mais perto dela, e ouvir sua voz desesperada, lutando contra as chamas que devoravam seu vestido de noiva. Ela gritava: - Ele é meu, vai casar comigo, sim , nem que seja no inferno. Nos ouvidos da pobre moça, as vozes aumentavam a ladainha estava mais rápida e ela ouvia muitas gargalhadas e no meio daquelas gargalhadas uma voz feminina muito doce se fez ouvir: “-Não, José Sérgio, não vai casar com você, nem vai para o inferno, ele está livre de tudo o que iria passar, eu fui a mãe dele, e vim resgatá-lo de sua dor antes que ela começasse”. O anjo bom acabou de pronunciar estas palavras e Letícia Isabela foi tragada por seus verdugos negros.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 10/01/2014
Reeditado em 13/01/2015
Código do texto: T4644682
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