Muito Longe do Fim Segunda Parte

Champignon no Vale dos Suicidas. Já não sei quanto tempo faz que estou vagando nessa escuridão sem fim, chapinhando nesse lodo fedorento... acho que aqui, nesse lugar pavoroso que deve ser o inferno, nada tem fim. E eu que pensei que minha mente seria apagada juntamente com meus neurônios destroçados, ai mas como estava engano, mas agora é tarde, tarde demais...

Silêncio na minha mente... não consigo me lembrar de mais nada com clareza, ou melhor, minhas memórias estão todas misturadas... somente um nome aflora, e eu chamo, ali na escuridão:

- Alexandre!

Nada... grito com mais força.

- ALEXANDRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Onde ele está? Ele não me ouve... não me atrevo a voltar ao ponto de partida, porque não quero ver meu corpo sendo devorado pelos insetos e baratas... como tem baratas naquele cemitério, mano! Mesmo aqui eu ainda sinto elas passeando pelo meu corpo, entrando na minha boca, sinto bichinhos minúsculos roendo meus cabelos. E esse sangue... esse sangue morno e viscoso que não pára de correr pelos meus ombros... grito outra vez, com toda força de que sou capaz.

- ALEXANDRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Caraca, maluco, que foi que eu fiz?????????????????? Pensei que ia descansar e agora, onde está a saída? Para a frente é só essa escuridão infernal e infinita e para trás, resta um caixão com meu corpo apodrecido, e rostos que choram... deixei tanta gente chorando... uns me lamentam, outros me julgam, outros ainda riem de mim... ah, se pelo menos eu pudesse encontrá-lo...

- ALEXANDRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Sigo andando, com muita dificuldade, nesse barro escorregadio... mas agora ouvi uma coisa! Vozes... gritos de dor e desespero... lamentos sem fim... e de repente uma luz tipo assim meio roxa se acende e posso ver afinal onde estou. PQP, mano, mas será que aqui é mesmo o inferno? Está cheio de gente suja, esfarrapada, desesperada... eles também estão perdidos... suas mãos imundas me tocam, eles têm os mais diversos tipos de ferimentos, esses meus companheiros de infortúnio. Alguns cospem as próprias entranhas... outros correm, aos berros, com as roupas em chamas, mergulham no barro e daí a pouco começa tudo de novo. Há muitos que têm um buraco na cabeça, como eu... parecem zumbis de um filme de terror, estão horrivelmente deformados. E então me cai a ficha, sinto um arrepio de horror. Será que eu estou desse jeito também? Eu quero ver meu amigo... sento encolhido num canto, chamo mais uma vez:

- ALEXANDRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Escondo minha cabeça ferida entre os joelhos, estou exausto, queria dormir, ou melhor, queria morreu de verdade...

De repente sinto uma mão tocar no meu ombro.

- Chamou?

CONTINUA

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 07/01/2014
Reeditado em 10/03/2014
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