ENTRE DUAS REALIDADES

Por Lauro Winck

Raul é um ateu convicto. Vive sozinho em um pequeno apartamento de 2 cômodos. Detesta televisão e vive reclamando dos vizinhos, o som alto. Gosta de escrever, mas até hoje não teve coragem de publicar, embora seus amigos insistam. Acham que seus textos são bons e ele deveria se dedicar a literatura. Mas Raul resiste e apenas publica em dois sites que aceitam fazê-lo gratuitamente. Viúvo, desde que Mabel morrera prematuramente em um acidente de carro, nunca mais interessou-se por ninguém, uma ou outra aventura e nada mais.

Dia 1° de Janeiro, dia em que completava 65 anos, estava relendo alguns trechos do último conto baseado em um incidente que lhe ocorrera, cerca de 10 anos passados, quando bateram à porta. Rock deitado sobre o tapete, rosnou meio esquisito. Raul, fez um sinal para o cão que entendeu. Estava tudo bem. Ele então dirigiu-se a porta e ao abri-la, ficou branco, suas pernas fraquejaram e pensou que ia cair.

-Você está bem? Perguntou a mulher preocupada.

- Sim, desculpe, mas você é uma cópia perfeita de minha falecida esposa.

- Raul! Você esta brincando? Sou eu! Mabel, lembra? Sou sua mulher.

Raul empalideceu.

- Mas! Pera ai,...se você está morta e eu estou falando com você, significa que...

- Sim querido! Interrompeu Mabel...- Você está morto.

- Ok! Mas, como eu não soube disso?

- É assim mesmo, levamos um tempo.

-Mas você parece mais nova!

- Sim, é assim mesmo, veja no espelho, mas você tem que querer parecer mais jovem.

Raul estava agora completamente confuso, olhou-se no espelho e viu seu corpo mudar aos poucos e agora era um jovem com pouco mais de 20 anos, como era possível? Ficou por um momento pensativo. Fechou os olhos, _ Será que isso é um sonho? Abriu os olhos de vagar, mas estava tudo igual, não! Não era um sonho. Mas, Raul era teimoso, pensou mais um pouco, tinha algo errado, decidiu fazer um teste.

- Eu quero que você saia, por um momento, de uma volta na esquina e depois volte ok?

- Não entendi, mas tudo bem. Puxa! Você nem me beijou.

Raul desculpou-se e tomou-a nos braços, sentia seu perfume, o calor de seus beijos e envolveram-se apertados na pequena cama de solteiro. Há muito Raul, sonhava com esse momento, as vezes pensava que mesmo em sua condição de ateu convicto, no fundo espera poder tê-la novamente em seus braços. Amaram-se até ficarem exaustos. Mas Raul não desistira de tirar a prova. Precisava entender o que estava acontecendo. Mabel saiu, conforme haviam combinado.

Raul vestiu-se, esperou Mabel sair, viu-a dobrar no corredor e então saiu. Já era tarde, mas, seu Juarez estava como sempre com seu radinho ligado.

- Tudo bem Ju? Perguntou Raul.

- Tudo seu Raul.

- Ju! Me diga uma coisa,como está minha aparência?

- Normal, seu Raul, por que? Está sentindo algo?

- Não, não é isso, me diga, eu pareço mais novo?

- Ué! Seu Raul, nós acabamos de comemorar seu aniversário, o senhor não mudou, está tudo igual. Por que?

- Deixa pra lá, obrigado.

Raul deu meia volta e voltou para o apartamento, nervosamente abriu a porta e correu para o espelho. Estava tudo normal, era ele mesmo e seus 65 anos.

-Bosta! O que está acontecendo? Mabel me aparece e diz que eu morri, por isso consigo conversar,....transar! Poxa!, Nós transamos e foi maravilhoso!

Sentou-se em sua mesa e ligou o computador, estava tudo normal. uma mensagem da Elena, no Faceboock, querendo saber quando o veria novamente. Ele desligou, rápido.

- Então é isso? Se a Mabel está aqui, eu estou morto, tudo bem. Ela vai embora, eu estou vivo. É muito estranho, mas tenho que achar um meio de tirar proveito disso. Afinal, acho que sou o primeiro homem que pode viver em duas realidades diferentes. Vou ficar famooooosssooooo! Foi arrancado de seus devaneios com o estampido de um tiro e um barulho na sala. Correu e um homem empunhando uma pistola, apoiado sobre a porta quebrada bradou!

- Seu filho da puta, anda saindo com a minha mulher!

Era o marido de Elena.

Dois estampidos seguidos e Raul caiu pesadamente. Estava morto.