Sobre Um Texto Nonsense

Baseado em fatos reais:

Já foi identificado o corpo do homem que faleceu ontem à noite numa tranquila rua da cidade de Piraju. Segundo relatos, o indivíduo tomava pileque e caminhava tortuosamente defronte ao Bar Pra Gente Rir, visivelmente alcoolizado e ainda por cima bêbado, sem apresentar quaisquer sinais de melhora. De súbito, uma mulher que passava ali em frente, dita esposa do indivíduo, discutiu com ele, proferindo baixo calão e blasfêmias. Um dos colegas de bebedeira de João da Silva (42) - a vítima - disse em seu depoimento que a discussão, iniciada pela mulher, durou entre três e cinco minutos - dez no máximo. Logo em seguida, a mesma seguiu caminho. Mas ela voltou.

O movimento seguia alto no Bar Pra Gente Rir quando, entre cinco a dez minutos depois de partir - quinze no máximo - a esposa e irmã da vítima ressurgiu. Ela carregava numa das mãos um galão com líquido inflamável, um isqueiro na outra e uma caixa de fósforos na outra. O dono do bar, em seu relato, afirmou que nova discussão ocorreu na calçada que ficava em frente ao seu estabelecimento comercial. Vários depoimentos corroboraram para que a polícia posteriormente chegasse à conclusão de que a mulher - e irmã - de João entornou o galão sobre ele, derramando o líquido inflamável sobre este, que tentava em vão entender o que sua amásia fazia. Em seguida ela proferiu a seguinte frase “Você quer álcool, seu infeliz? Então eu vou te dar álcool!”, ao mesmo tempo em que riscava o fósforo e o jogava contra João.

Uma bola de fogo ergueu-se onde antes encontrava-se a figura mongólica de João, o bêbado. Gritos horríveis foram ouvidos, acordando diversos moradores, enquanto a mulher – irmã e também sobrinha de João – fugia do local do crime. Os demais bêbados que se encontravam no bar nada puderam fazer para salvar João, que ardia em fogo e caminhava diabolicamente pela rua, tentando livrar-se da dor e do calor que o consumiam. Só puderam assistir imóveis à cena, enquanto expeliam vômito uns sobre os outros. O dono do bar foi o único que conseguiu agir, mas tardiamente. Quando finalmente conseguiu apagar o fogo, uma massa disforme e tostada era a única coisa que havia sobrado.

A polícia e a ambulância foram acionadas. Esta segunda nada pôde fazer, pois ao chegarem ao local, o corpo do cadáver jazia morto e já sem vida. E além de não se mexer, o corpo se encontrava completamente imóvel, permanecendo assim por alguns instantes. Exames médicos da autópsia chegaram a três conclusões importantes para continuidade do inquérito policial. As conclusões você lê na íntegra, no excerto a seguir:

“Constatei, através de exames detalhados, que a vítima realmente encontra-se morta. Através de uma perícia minuciosa, constatei ainda que a vítima sofreu várias queimaduras, algumas delas seriam muito graves até, se por sorte a vítima não tivesse morrido. E por último, mas não menos importante, cheguei a conclusão de que a vítima já se encontrava morta há pelo menos 24 horas quando foi carbonizada, dadas as condições do corpo. A causa mortis foi um ataque cardíaco fulminante. Eu, Dr. Marlon Brando, atestei. Eu, Dr. Marlon Brando, assinei. Eu, Dr. Marlon Brando, protocolei. Eu, Dr. Marlon Brando, ratifiquei.”

José da Silva (39), travesti, mais conhecido como Maria - a mulher-irmã-sobrinha de João –, foi indiciada por tentativa de homicídio premeditado culposo - quando não há a intenção de matar – e responderá o processo em liberdade.

Já João da Silva (42), o bêbado, foi encontrado há três quarteirões do Bar Pra Gente Rir. O mesmo carregava consigo 300 gramas de maconha, por isso foi preso em flagrante por tráfico de drogas e conduzido a cadeia pública local.

O corpo foi identificado como sendo de Marlon Brando Junior (28), que era um dos transeuntes que desafortunadamente passou defronte o Bar Pra Gente Rir exatamente no momento da discussão. O sepultamento será realizado hoje, às 15 horas, no Cemitério Municipal de Piraju, e o velório será logo em seguida.

Publicado originalmente no blog Pra Gente Rir, no endereço: http://pragenterir.blogspot.com.br/2011/09/sobre-um-texto-nonsense.html