O Leão e o Vento

O Leão e o Vento

O Vento – Parte 2

Gostaria de não ter mais qualquer memória, gostaria de apodrecer com elas e o nunca mais ser exatamente o fim. Gostaria de estar distante e disperso da qualquer sapiência, o Leão outrora em minha essência se esvaiu pelas lágrimas que fingi chorar.

Deus me salve por inteiro, há uma alma em mim prestes a queimar no fogo de um milhão de sóis. Deveria saber que não seria mais o mesmo, riria, choraria e em maior dos momentos estaria apenas ensurdecido e entorpecido pelo silêncio. Parecia sair de si, enquanto seu corpo estava em algum lugar seguro – era agora, apenas, não mais que o vento. Atravessando sobre os sonhos mortos, fazia o fogo aos poucos aumentar. No tempo em que passava, assistia muitas vezes a inocência perdida, levada por marés de desengano e a vida, uma tela borrada e cheia de destroços. O que tinha guardado dos anos de existência, não lhe era bom – tudo soava como uma maldição! Afastando-se de si, tentando apagar qualquer rastro dos passos que deu até se tornar o Vento.

“Um vento que poucos conseguiram enxergar”.

Quanto mais lia as pálidas memórias, mas por dentro parecia esfriar e questionava o que estaria perdendo – Havia cada vez mais frio dentro de sua alma, o vento tornava-se tão incomum, tão especial, tão sobrenatural – talvez.

Talvez guardasse dentro de si alguma culpa; culpa do não ser, culpa do querer, maldito querer. Como saberia o que querer enquanto tudo dentro de si estava tão esfumaçado. E o vento tantos foi...

Para alguns uma brisa, para alguns um tornado, para alguns um temporal, para outros apenas o singelo e bom vento. Mas o que quereria o vento? Estava tão cheio de perguntas e que para si nunca e jamais poderia responder. Quem é você Vento?

Se deixando passar pelas mãos, pelas ideias, pelas palavras, pelos cabelos, pelos olhos de outrem. Às vezes misturando-se a fumaça, alastrando fogo e queimando seu próprio corpo perdido por ai. Às vezes perdendo o próprio fôlego na tarefa árdua de fazer as nuvens se formarem. – Quem é você Vento? Saberia que nasceu para estar separado, manter-se afastado. O que te ameaça? Teus ossos enegrecem e tua carne já em fedentina te clama para voltar. Não penses que não poderás lutar, achando que ninguém lutará contigo. Machucando cada vez mais – compaixão não é uma falha e é hora de voltar para si... “E o vento levou”.

Victor Cartier (Anjus)

Victor Cunha
Enviado por Victor Cunha em 23/12/2013
Código do texto: T4623226
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