Foi por pouco.
Foi por pouco.
A história é meio estranha, mas vou contar exatamente como aconteceu...
Certo dia eu estava sentado num banco de uma parada de ônibus, em frente às lojas Americanas, no centro da cidade. Já era fim de tarde e começava a escurecer. Foi quando se aproximou de mim uma morena, alta e muito bem feita de corpo, eu não a conhecia, mas ela parecia ser muito íntima de mim.
- Olá, por onde você andava? Faz tempo que não te vejo, disse ela.
- Tenho andado ocupado, respondi.
Após essas palavras, ela se aproximou de mim, me abraçou, e começou a me beijar. Apesar de aceitar tudo aquilo, não era o que eu queria, eu era casado e sabia que era errado. Sabia que de alguma forma aquilo me afastava de Deus.
Eu olhava para ela e achava tudo aquilo muito estranho, porque até então eu não tinha ficado com uma mulher tão alta (prefiro as baixinhas).
Ela ficou do meu lado, parecia que ia pegar o mesmo ônibus que eu, e enquanto esperávamos o ônibus, de repente apareceu uma viatura da polícia e parou em frente ao banco do Brasil; dela saíram homens com facões brilhantes nas mãos, e foram em direção ao banco. Todos que estavam na parada pensavam que se tratava de um assalto (inclusive eu). Tentamos nos afastar, mas ao nosso redor começaram a cair bombas. Olhamos para cima e percebemos que do alto das paredes das lojas Americanas, desciam homens de preto fazendo rapel, eram eles que estavam jogando as bombas. A coisa ficava cada vez mais estranha. Muitas outras viaturas vinham ao nosso encontro, ninguém entendia nada do que estava acontecendo. Aquela situação causou grande medo e correria, começamos a correr para o lado oposto de onde vinham as viaturas da polícia, mas a partir dai começou uma ventania muito grande, o vento era tão forte, que algumas pessoas eram jogadas de volta, eram arremessadas para cima das viaturas. Poucos conseguiam continuar andando no sentido contrário. A morena foi comigo até um certo ponto, mas também não aguentou a força do vento, e foi levada.
Apesar de toda aquela agonia, percebi que mesmo com um vento tão forte, existiam pessoas que conseguiam andar tranquilamente. Elas andavam em direção a um lugar, eu não sabia o que era, mas vi de longe um lugar cercado, de aparente paz, com muitas árvores, lagos, pessoas e animais. O vento forte partia da entrada desse lugar para fora, dentro dele estava tudo tranquilo.
Em meio a tudo isso tinha um carro com um alto falante que tocava a mesma música, ela dizia: "vamos todos voltar para a presença de Deus, vamos todos voltar para a presença de Deus..." essa música era repetitiva, e cantada de uma forma pejorativa, não era algo bom de ouvir. Parecia que zombava de tudo aquilo que estava acontecendo... Do sofrimento das pessoas.
Já do céu vinha uma voz que dizia: "Deus está voltando, todo esse sofrimento vai passar" essa voz era boa de ouvir, trazia conforto e dava calma.
Continuei tentando seguir as pessoas até o local cercado, mas não estava fácil, o vento era muito forte.
Quando finalmente me aproximei, ao chegar na frente do local, do lado de fora vi um homem; jaqueta cinza, chapéu, óculos escuros, caderneta e caneta nas mãos.
Do lado de dentro, vi outro homem, este mais velho do que o que estava lá fora; chapéu, camisa, bermuda, óculos escuros. Estava sentado numa cadeira de praia, nas mãos ele tinha, um caderno e uma caneta, ele anotava quem chegava, quem conseguia entrar.
Confesso que chegar até lá foi difícil, entrar pior ainda. Tive que ralar meu peito no portal daquele lugar para poder entrar, tamanha era a força do vento tentando me por para fora. Mas enfim entrei.
- Menos um, disse o homem que estava lá fora.
Ele riscou algo na caderneta, possivelmente meu nome, que devia estar na sua lista.
Já o homem que estava do lado de dentro, partiu uma laranja e me deu.
- Seja bem vindo! Aqui você terá paz e tranquilidade, disse ele.
Após isso me perguntou: - Quem veio com você?
Uma tristeza me abateu, porque percebi que estava no paraíso, um lugar muito bonito com, árvores, frutas, lagos e pessoas felizes, tudo muito diferente da tormenta que havia lá fora. E sabe o que é pior? Eu percebi que não trazia ninguém comigo.
Olhei para o homem que estava do lado de fora, joguei no peito dele uma das metades da laranja, e disse: Eu consegui!