Under pressure

Aconteceu em um dia frio de novembro, eu estava no ônibus, pensando no quão eu estivera bêbada na noite anterior. Meu fone de ouvido estava plugado no celular e devidamente encaixado em minhas orelhas, porém, não havia música, pois confesso que estava escutando a discussão mofina que acontecia na poltrona detrás.

Uma menina se queixava sobre as injustiças do relacionamento e um rapaz a indagava sobre o motivo de tais queixas. A menina estava inquieta e ouvia-se ela bufando em pequenos intervalos de tempo. O rapaz estava calmo e tentava explicar à garota que não haviam motivos para a mesma estar tão embravecida.

De repente, a garota aumentou o tom de voz e eu sinceramente não tinha o menor interesse em ouvir o que ela tinha para deblaterar.

Coloquei a primeira música que aparecera e me encaixei confortavelmente na poltrona, tentando afastar meus pensamentos da ideia de que a culpada por tudo era a pressão.

A pressão estava puxando ambos para fora da sanidade. E lá estava eu, caminhando na mesma direção. Mas, quem não estava sob pressão?

O problema é quando você descobre quão abominável o mundo pode ser e observa os olhos de alguns conhecidos, implorando a liberdade que ninguém possui. E eu só esperava que o amanhã conseguisse me deixar melhor.

Desci do ônibus, andei por aí fingindo não ver o que estava acontecendo ao meu redor, o caos reinava e eu me sentia tão pressionada pelo futuro socialmente admirado, que não tinha certeza sobre como as pessoas se tornam o que são.

Decidi que abandonaria tudo, não moveria um músculo, o sonho havia acabado e os humanos realmente não mudavam, nem quando estavam sendo empurrados.

Estava decidida que não tentaria mais modificar nada. As pessoas não mudam o mundo, o mundo altera as pessoas.

Existem pessoas na rua, e daí? Pessoas lutando para sobreviver perante a fome e pessoas lutando por pessoas que lutam contra a fome.

Eu estava ficando aterrorizada com meus pensamentos, mas de algum modo, eu definitivamente não conseguia mover-me para outro âmbito.

Acho que era o terror de descobrir sobre o que se trata o mundo.

Eu costumava rezar para que o mundo melhorasse e acabei não acreditando mais em rezas.

Ali estava eu, no meio do caos como um homem cego, sentei-me no muro e de nada adiantou. A insanidade estava sorrindo e não me lembro se foi nesse momento em que eu havia enlouquecido ou se foi quando atinei que o amor havia se tornado uma palavra vulgar e distorcida.

"Amor, amor e amor", as vozes em minha cabeça começaram a ecoar, minha ânsia por mudança retornara e eu me questionava sobre quando eu havia enlouquecido.

A insanidade estava sorrindo e a pressão me dilacerando.

O tempo desperdiçado com conformidade me tornara momentaneamente pérfida aos meus princípios.

"Por que não podemos dar uma chance ao próximo? Por que não dar outra chance ao amor?". E as vozes vinham à minha cabeça, fragmentando todos meus pensamentos com profundos "Por que não podemos dar amor? Dar amor. Dar amor. Dar amor."

E uma luta incessante acontecia dentro do meu cérebro e nesse estágio já não havia mais certeza sobre cérebro e coração.

Uma segunda voz, como se explicasse o que estava acontecendo, ecoou "pressão, pressão, pressão" em meus ouvidos enquanto eu acordava, ainda na poltrona do ônibus, escutando "Under pressure" e voltando à realidade aos poucos.

Foi, nesse momento, que eu não soube responder se havia sido bom ou terrível acordar e voltar para a realidade.

O que acalmou meu coração, imediatamente, foi o beijo que ganhei do amor que me esperava na poltrona ao lado.

Larissa Stein
Enviado por Larissa Stein em 18/11/2013
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