O Conto do Três vezes Três - parte três

O Conto do Três vezes Três - parte três

E ele estava lá, sentado, cansado e com fome. No lugar de sempre, a sua cadeira e os seus livros. E também carregava junto a sua obesidade que insistia em fazer com que ele não andasse mais, e também o matasse de uma vez por todas, afinal, ele quase já não conseguia mais respirar. Até que ponto chegou Valter? Até que ponto, ou ainda faltam mais pontos pra você chegar e assim cometer lentamente, um suicídio.

Mas pra ele estava bom, estava tudo bom. Contando que não fizesse muito calor e que comida teria o suficiente, Valter sobreviveu em seu mundo pós apocalíptico, sem dar as caras na rua, sem se comunicar e sem viver. Cada dia era um risco a menos na tabela da vida, cada qual ele matava de uma forma diferente.

E aqui se vão muitas perguntas pra você Valter pensar: Quantas caras fechadas pela manhã Valter? Quantos bom dia você recusou a devolver a quem lhe dava Valter? Quantas maldições você rogou nos pensamentos Valter? À quantas pessoas você desejou a morte Valter? Quantos dias você os passou em preto e branco Valter? E não me venha com desculpas de que tem gente que enxerga a vida em preto e branco...

O vento se esforçando para entrar na casa, gemia pelos cantos das portas e janelas de vidro. Numa tarde de domingo alucinante, Valter sentava em sua cadeira e continuava o processo de matança a si mesmo. Sentia dores pelo corpo todo, era uma articulação aqui, e uma pontada ali, tudo isso muito normal. Odiando os remédios e amaldiçoando os médicos, assim era Valter. Ele só sonhava que um dia retornaria ao útero da Terra para viver em harmonia, pois aquele mundo ao qual fora inserido, pra ele já não valia de mais nada. A beleza da natureza ficou ofuscada tamanha era a ganância e retrocesso do homem, um ser que nasceu evoluído, mas que com o tempo foi retrocedendo culminando na geração de aspirantes a seres humanos que temos hoje. Seja bem vindo Valter aos confins da mente.

E Valter pereceu alí, sentado perto de seus livros, era quase um portal. Em vida aquela pobre alma não fez nada de bom ou que nos dê realmente orgulho de tê-la criado. Erro nosso meu Deus, erro nosso! Porque não dar uma nova chance? Mesmo que o processo de evolução seja doloroso, ele só quis acelerá-lo e o fez muito bem. Agora o que resta para ele é todo um novo universo, querido e calmo esperando por alguém que tenha amor e fé para semear entre os demais.

Quando Valter abriu os olhos, lembrou-se de que dia era aquele: seu aniversário! Ficou tão contente que decidiu largar a chupeta e que iria também andar até a sua mãe para lhe contar a novidade.

O Anjo Original
Enviado por O Anjo Original em 10/11/2013
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