tua morte e tuas crianças

*

.na noite da tua morte :estava lá

.sempre estive .te olhava cozinhar .banhar as crianças .assistir tv .se masturbar antes de dormir

.quando ias ao trabalho :ia junto .te ouvia falando só do quanto eras só .reclamando do emprego .do trânsito .da vida — confesso q sorria

.a hora de buscar as crianças na escola era um fardo :te lembravam o erro do casamento falido .sei q as abandonaria a qualquer momento :por isso sequer as chamava pelo nome

.as crianças pouco te diziam — tu nada as dizia

.todo fim de tarde voltavas para casa se perguntando porq não mataste o maldito pai daqueles monstrinhos — afinal :a culpa era toda dele

*

.já era noite quando chegavas

.na noite de tua morte :banhaste as crianças .as alimentaste .pensaste na liberdade q terias sem elas

.adormeceste ali mesmo no chão da sala

.pelas tantas da madrugada :vi quando as crianças saíram do quarto :te encontraram nua com a mão na boceta — dormindo depois dum gozo forçado

.pensei em gritar te acordando — mas não :tinham este direito

.observava no escuro dos cantos enquanto a mais velha enfiou-te uma faca no pescoço .acordasse :percebendo o q acontecia — sorriste

.sabias q mais cedo ou mais tarde isto aconteceria :estavas enfim sendo liberta

.sangraste até a morte :com os olhos brilhando e um sorriso largo no rosto

*

.dançam há horas ao redor de teu corpo nu .sem vida .sem dores .sem ocupações .sem trabalho .sem morte

.somente aquela carne nua e sangrada

*

geovanne otavio ursulino
Enviado por geovanne otavio ursulino em 31/10/2013
Código do texto: T4549526
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.