tua morte e tuas crianças
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.na noite da tua morte :estava lá
.sempre estive .te olhava cozinhar .banhar as crianças .assistir tv .se masturbar antes de dormir
.quando ias ao trabalho :ia junto .te ouvia falando só do quanto eras só .reclamando do emprego .do trânsito .da vida — confesso q sorria
.a hora de buscar as crianças na escola era um fardo :te lembravam o erro do casamento falido .sei q as abandonaria a qualquer momento :por isso sequer as chamava pelo nome
.as crianças pouco te diziam — tu nada as dizia
.todo fim de tarde voltavas para casa se perguntando porq não mataste o maldito pai daqueles monstrinhos — afinal :a culpa era toda dele
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.já era noite quando chegavas
.na noite de tua morte :banhaste as crianças .as alimentaste .pensaste na liberdade q terias sem elas
.adormeceste ali mesmo no chão da sala
.pelas tantas da madrugada :vi quando as crianças saíram do quarto :te encontraram nua com a mão na boceta — dormindo depois dum gozo forçado
.pensei em gritar te acordando — mas não :tinham este direito
.observava no escuro dos cantos enquanto a mais velha enfiou-te uma faca no pescoço .acordasse :percebendo o q acontecia — sorriste
.sabias q mais cedo ou mais tarde isto aconteceria :estavas enfim sendo liberta
.sangraste até a morte :com os olhos brilhando e um sorriso largo no rosto
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.dançam há horas ao redor de teu corpo nu .sem vida .sem dores .sem ocupações .sem trabalho .sem morte
.somente aquela carne nua e sangrada
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