Experiência de Uma Noite Solitária
Começou com uma luz fraca. Quando me dei conta tinham me arrancado da cama. Pares de olhos globulares me observavam com interesse científico inabalável e estranhas vozes pronunciam meu nome. Confesso que tinha esperança de deixar este mundo condenado, mas quando encarei aquele rosto acho que mudei de ideia.
Era como se a morte fosse à coisa mais excitante que já me ocorrera. Pois na certa não sairia vivo. Iriam me abrir, entrariam no emaranhado da minha mente, fariam testes psicotécnicos diabólicos e sabe lá mais o que estes homens do espaço fazem.
A luz no recinto era ofuscante. Só enxergava pequenos olhos. Olhos globulares. E algo que me parecia uma eternidade de perguntas sem respostas passou. E sabe, talvez eu tenha voado longe demais do chão esta vez.
Estava dissecado até os ossos, mas de alguma forma meu cérebro pensava. Devia estar louco. Fios entraram na minha pele, pulsando como cobras, entrando nas minhas entranhas. Ficou uma impressão estranha em minha cabeça. O que via diante de mim era um clone ou eu mesmo? Talvez seja só um sonho.
Acordo. Surpreendentemente estou recomposto. Meu quarto é a mesma pilha de livros velhos e está impecavelmente em desordem. Arrasto-me até o banheiro como um sonâmbulo e deixo a água escorrer no meu rosto até pingar pela barba e empapar minha blusa. Estou vivo. Carne, ossos. Mas algo não está certo.
E eu estou bem, obrigado. Mas às vezes ouço aquelas vozes na noite. Talvez o homem do espaço venha me ver. Está tudo em minha mente.