O Palácio de Areia

Incrustado na areia, jaz as ruínas de uma cidade no meio de um vasto deserto, que outrora desfrutou de luxos e prazeres — pagos por enormes quantias de dinheiro. Porém, naquele panorama que poderia ser descrito como o fim do mundo, havia apenas um habitante — talvez o último homem vivo no planeta.

O único sobrevivente acorda para mais um dia solitário e com o rosto ainda amassado, pelo afofado travesseiro de plumas sobre a cama de um dos poucos quartos imperiais daquele hotel, ele indagava sobre como ocupar o tempo em mais um dia isolado naquele lugar. Pela janela era possível ver a luz da manhã se debruçando sobre a areia dourada que refletia seu brilho por toda a cidade, parecia que o rei Midas a tivesse tocado. E por mais que o sol escaldante tentasse trazer a morte, uma brisa úmida revigorava a vida enquanto fazia as cortinas de seda dançarem como o vestido de uma deusa que levitando quarto adentro. Era um ar puro que enchia o peito sem o peso de responsabilidades passadas, mas não diminuía a dor de uma perna ferida.

Apesar da dificuldade para andar, isso não impedia o solitário homem de explorar aquelas ruínas modernas. O vento — e tão só ele — podia ser escutado junto de passos mancos pela areia. A cidade ainda tinha energia, provavelmente de algum gerador que ainda funcionava por milagre, mas ele sabia, que cedo ou tarde tudo deixaria funcionar. O homem escorregava pelos bancos de areias nas faixadas dos prédios para se locomover melhor, e mesmo que suas roupas ficassem cheias com areia, isso não o incomodava, pois ela tão fina que escorria como água.

Tudo parecia intacto, poucas janelas quebradas, pequenos buracos nas paredes e algumas colunas tombadas, mas esse cenário parecia uma expressão artística, pois os destroços proporcionavam uma paisagem magnifica como se tudo fosse calculado, produzido e formado pela sensibilidade de um artista.

O homem solitário conseguia lembra, ou pelo menos supor o que causou aquele apocalipse prematuro. Os noticiários falavam de bombas sendo jogadas em países e parecia que o mundo havia ficado pequeno para algumas pessoas, o governo havia anunciado que não era seguro permanecer na cidade, o homem seguiu todas as instruções antes de sair, deixou seus pertences e seguiu junto com a multidão infernal para o aeroporto. Porém a posterior queda do avião mudaram os planos.

Ele tentou procurava ajuda para os feridos que não tiveram tanta sorte, porém uma bomba — ou talvez o próprio avião — explodiu, jogando-o para longe e provocando o ferimento em sua perna.

Depois de algumas horas mancando pelo deserto ele achou a cidade arenosa.

O que mais o fascinava na cidade era o museu. Ele nunca tinha parado para admirar a arte e agora, após a busca por suprimentos, ele o visitava todos os dias. Ficava por horas olhando os quadros, as esculturas e a própria arquitetura do prédio parcialmente soterrado pela areia cristalina.

Um dia, entretanto, depois de horas sentado no banco, de frente para um quadro, sua perna machucada — que piorava a cada dia — finalmente não se mexia mais. A saída estava muito distante e o menor movimento provocava uma dor insuportável. Passou horas ali pensando em como poderia sair e se saísse como faria para aliviar a dor da perna feriada. Foi então que ele encarou o quadro à sua frente pela ultima vez e sorriu. Finalmente percebeu que tudo aquilo era inútil para salvar sua vida.

Tales H C Souza
Enviado por Tales H C Souza em 23/10/2013
Reeditado em 19/03/2015
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